domingo, 17 de maio de 2015

Mão de Obra Escrava na Austrália

E aí, minha gente, vocês ainda continuam pensando que a Austrália é o paraíso do primeiro mundo?

Me senti como voltando no tempo... o jeito como éramos tratadas foi
desumano. Molly, mochileira.
Bem, para os ricos e classe média alta brasileiros vivendo na Austrália, pode ser, principalmente se eles insistem em ignorar o que lhes acontece à volta, justamente como a maioria estava acostumada a ignorar a pobreza que os rodeava no Brasil. Mas isso significa que estas pessoas não são humanas, elas simplesmente não existem como pessoas, elas são ratos.

Costumo ser mais realista e estar mais ciente das coisas que me rodeiam, por isso procuro estar sempre bem informada. E a cada dia que se passa, mais estarrecida fico com o que vai se revelando nos bastidores deste país que, sinceramente, era de se esperar muito melhor. Confesso que, se você não quer ver, você não enxerga mesmo e vive como se nada daquilo existisse.

Os consumidores compram, acreditanto que aqueles produtos são
produzidos na Austrália decentemente. George Robertson, União
Nacional dos Trabalhadores, Estado de Victoria.
Uma das coisas que mais me chocaram ultimamente, depois da violência doméstica, foi a descoberta e revelação de que existe trabalho escravo na Austrália, e o que é pior, envolvendo o mercado de frutas e vegetais que nós compramos nas cadeias de super-mercado, anunciados na TV como fresquinhos em propagandas adoráveis com direito a passarinhos animados cantando, pelos quais pagamos para os atravessadores que exploram trabalhadores imigrantes que não sabem de nada desse país e acabam caindo numa máfia de exploração e degradação social.

Já tínhamos visto documentários na TV sobre o trabalho escravo na China e no Paquistão, mas esperar isso acontecendo na Austrália, embaixo dos nossos narizes, é algo completamente inconcebível e avassalador.

Aqui vai traduzido um sumário deste episódio do programa de TV Four Corners que foi ao ar esta semana, e cujo teor povoou todos os jornais nacionais durante a semana inteira.

Kerry O'Brien, programa Quatro Cantos (Four Corners), TV ABC,
Austrália
Programa Denúncia

Escravização: Os segredos podres por trás do mercado de produtos frescos da Austrália.

Eles estão em sua geladeira e em sua mesa: alimentos frescos que obtemos facilmente e sem dar trabalho.

Mas há um segredo podre por trás deles.

Muito do que é colhido e embalado, é feito por um exército oculto de trabalhadores migrantes que são cruelmente explorados.

"Há trabalho escravo no país." - diz um produtor de Queensland.

Uma investigação do programa "Four Corners" (Quatro Cantos) revelou gangues de empreiteiros de aluguél de trabalhadores no mercado negro de aluguél de mão-de-obra sem escrúpulos que operam em fazendas e fábricas em todo o país.

Divine Ripe, tida como a "jóia da coroa" australiana por sua
excelência em cultura de tomates em estufas, referida como
empregadora padrão, utiliza de 100 a 400 empregados extras
através de empresas de mão-de-obra contratadas
Os produtos que eles fornecem acabam em nossos principais supermercados e cadeias de fast-food.

"Quase todos os produtos frescos que você pega... terá passado pelas mãos de trabalhadores que foram fundamentalmente explorados." - diz um oficial da União dos Trabalhadores.

Esses empreiteiros vão atrás de jovens altamente vulneráveis para contratarem como trabalhadores estrangeiros, muitos deles com Inglês muito limitado, que vieram para a Austrália com sonhos de trabalhar em um país justo.

Eles são sujeitos a brutais horas de trabalho, condições de vida degradadas e pagamento de salários baixíssimos.

O repórter Caro Meldrum-Hanna obteve filmagens com câmeras escondidas sobre este mundo das trevas. Uma trabalhadora migrante lhe disse: "Eu me senti como se tivéssemos voltado no tempo... o jeito que estávamos sendo tratadas era desumano."

Não é a Austrália que você colocaria nos folhetos de turismo, não é
a Austrália que você falaria sobre ela, diz Dra Joanna Howe,
Professora Senior da Escola de Advocacia da Universidade de
 Adelaide.
Outra disse: "Me fez questionar a Austrália como país".

As trabalhadoras estão particularmente em risco, com mulheres denunciando e fazendo alegações de assédio e agressão.

Dos campos dos agricultores para instalações de fábricas, o programa conta a história daqueles trabalhadores escravizados que produzem os alimentos que compramos e consumimos diariamente.

Veja o vídeo inteiro aqui, em Inglês:


Existe trabalho escravo neste país, diz um fazendeiro de Queensland.
Esquema

Basicamente o esquema funciona da seguinte forma. Imigrantes sem escolaridade nem especialização chegam a ser recrutados no exterior, pagando mais de $1000 dólares para arrumarem emprego na Austrália. Dalí eles são embarcados e recebidos na Austrália por um empreiteiro contratado que os coloca numa Kombi e os leva diretamente para seus destinos, sem direito a tour turístico pelas cidades, destinos os quais variam conforme as necessidades dos contratantes.

Estes empreiteiros passaram a ser contratados pelas empresas e fazendas nos últimos anos a fim deles se livrarem de terem que lidar com imigrantes legalmente, passando a responsabilidade para tais empreiteiros e estes que se virem. Tais empreiteiros passaram a reter boa parte do pagamento que antes era destinado aos trabalhadores, reduzindo-lhes os salários para menos da metade do que seria o valor de uma hora de trabalho. 

Kombis que entregam os trabalhadores (vocês sabem que não são
"Kombis" propriamente, não é preciso explicar aqui).
Antigamente, batidas policiais podiam encontrar imigrantes ilegais contratados pelas empresas, gerando-lhe pesadas multas, então elas resolveram o problema transferindo a responsabilidade para tais empreiteiros, muitos deles imigrantes eles próprios.

Os trabalhadores então são despachados para instalações sub-humanas e até estrebarias onde levas de jovens rapazes fortes dormem no meio dos cavalos. Outros se amontoam em casas onde comem no chão, e dormem pouco, alguns chegando a trabalhar 18 horas por dia. Como se isso não bastasse, eles recebem maus tratos, gritos e palavras desclassificadas como forma de apressá-los sempre mais e mais para aumentarem a produção, sem direito nem a irem ao toalete. Alguns dos entrevistados chegaram a dizer que, quando sentiam necessidade de urinar, não podiam ir ao toalete, então urinavam ali mesmo, nas calças, no local de trabalho. Como fica a higiene de tais lugares diante disso?

Seus produtos fresquinhos pelo suor dos imigrantes explorados.
O trabalho varia entre colher frutas, verduras ou legumes, incluindo uvas dos vinhedos dos fabricantes de vinhos chiques dos arredores de Melbourne, até seleção e embalagem de frangos em avícolas. Isso inclui uma das empresas padrões da Austrália, a qual já recebeu vários prêmios milionários do governo, um exemplo de alta tecnologia hidropônica nos arredores de Adelaide.

Os trabalhadores são recolhidos por Kombis antes do sol nascer, e deixados em casa pelas tais Kombis depois do entardecer e muitas vezes tarde da noite. Tais transportes também são ilegais. 

Pausa na tradução para dizer que meu marido me contou que meses atrás ele viu tais Kombis na estrada lotadas de homens mal encarados e de outras raças. Ele ficou pensando o que seria aquilo, abismado com o que estava vendo na Austrália. Não parecia ser real, e ele ficou pensando que talvez fosse uma família grande cheia de homens diferentes, viajando de uma cidadezinha para outra. Com certeza era o tal transporte de ilegais.

Suas comprinhas...
Um amigo nosso se submeteu a colher frutas e verduras numa fazenda do interior, tendo sido submetido a dormir no meio dos carneiros, sendo assediado sexualmente pelas crianças filhas dos donos da fazenda (pasmem!), sem receber nada a não ser comida e dormida, só com o fim de obter no final um número de horas trabalhadas e assinadas a fim de dar subsídio à obtenção de um visto de trabalho. Tal amigo europeu é formado, tem nível universitário e aparência de artista de cinema. Sua submissão a tal tipo de exploração se deveu a não encontrar emprego em seu país original e outras liberdades que ele objetivava conseguir para assumir sua vida longe da família.

A reportagem continua falando dos assédios sexuais às garotas imigrantes, as quais são submetidas a indiretas sobre como elas poderiam melhorar suas vidas se morassem com um dos assediadores, ou submetidas a apalpadelas e até imprensamentos dos quais não conseguiam fugir, o que elas contavam chorando. Uma delas foi denunciar à direção da empresa que decidiu dizer que alí ela não tinha mais emprego, enquanto o assediador permaneceu lá até a reportagem denunciar e mostrar sua cara na TV, obtida através das câmeras escondidas, ele por sua vez, também imigrante cercado de favores e conchavos.

No meio de tais imigrantes, algumas garotas britânicas se meteram, mas por serem muito mais esclarecidas e dominarem a língua inglêsa, elas foram capazes de denunciarem e ameaçarem os esquemas. Algumas ficaram sem receber dinheiro por semanas depois de terem finalizado os contratos, e na cara delas os gerentes falavam para os empreiteiros que eles não ousassem trazer mais nenhuma européia, que eles só queriam asiáticas. As britânicas ficaram abismadas com o que jamais esperariam acontecer num país como a Austrália.

Propaganda da rede de super-mercados Woolworths, da Austrália, 
com Samanta Jade, mas os produtos não são tão baratos assim...

Viver assim não é viver. Seria muito diferente se todos recebessem salários razoáveis e tivessem possibilidades de passear pelo país, dessa forma suas experiências seriam positivas e muito benvindas, e a Austrália poderia realmente ser considerada um pequeno paraíso. 

Se além disso, tivessem tempo disponível para aprenderem a língua e depois estudarem para tornarem-se especialistas bem pagos, então a Austrália seria o Eldorado. Mas a realidade global acabou com estes sonhos de antigamente. As grandes corporações de hoje, para onde a maré de dinheiro escoa, se instalaram nos países pobres, explorando a mão-de-obra extremamente barata que implora por empregos, a fim de ganharem vantagem vendendo seus produtos nos países de primeiro mundo a preços cada vez mais baixos, arrasando com a concorrência que tem o mínimo de moral para não lhes imitarem, e com isso não tem mais emprego bem pago nos países adiantados, ou estes tem sido reduzidos drasticamente para o número de candidatos, o que por sua vez, tende a reduzir os salários devido à extrema procura contra a demanda reduzida, e no final, todos saem perdendo, exceto as grandes corporações e conglomerados mundiais.

Eles querem pegar grupos de imigrantes trabalhadores vulneráveis
para venderem o trabalho deles a um empregador, diz Dra Joanna
Howe, Professora Senior da Escola de Advocacia da Universidade
de Adelaide.
A maior parte dos asiáticos e asiáticas submetidos a tal constrangimento não sabia uma palavra de Inglês. Por este motivo dificilmente eles se atreveriam a denunciar qualquer coisa, até por não terem a menor noção de como o país funciona e quais canais haveriam disponíveis para obter-lhes justiça e punir os contraventores. Sobre punição, aparentemente todos os governos são coniventes, pois todo mundo sabe destes esquemas que rolam no sub-mundo australiano, como é que tais governos que se gabam de terem sistemas de informação de altíssima tecnologia, não sabem de nada? Não querem saber é melhor de se dizer.

O outro lado da medalha é o seguinte: muitas empresas genuinamente australianas tem sido fechadas ao longo dos últimos anos, ou vendidas ou levadas para outros países porque elas não podem competir com a invasão dos produtos chineses, sempre custando uma fração dos preços altos pagos por produtos australianos justamente porque as empresas tem que pagar o alto salário mínimo australiano aos seus funcionários, enquanto os chineses e naturais de outros países asiáticos pagam misérias e mantém seus escravos, incluindo crianças lá no país deles, como tem sido denunciado na televisão nos últimos anos. A modificação na lei trabalhista para priorizar o trabalho casual, ou seja, pago por hora trabalhada e temporário, reduzindo drasticamente os direitos dos trabalhadores, aliviou mas não resolveu o problema de tais empresas. Hoje a taxa de desemprego da Austrália permanece baixa artificialmente porque qualquer empreguinho de poucas horas semanais é considerado emprego pleno, estatisticamente, mesmo que ninguém possa se manter com tal tipo de coisa.

O melhor trabalho do mundo. Não é bem esse que você vai pegar...
Jeitinho Australiano

Como as empresas australianas não estão conseguindo sobreviver, algumas estão partindo para a ilegalidade, para o "jeitinho australiano", com a ajuda de gente inescrupulosa e irresponsável. Tais empreiteiras de trabalho escravo não tem contabilidade, não pagam impostos seriamente, praticamente não existem em termos de suas abrangências. Depois da reportagem, algumas das cadeias de super-mercados, fábricas e fazendas declararam publicamente que deixaram de trabalhar com tais empreiteiros. Mas, dá pra acreditar nisso? Que outro esquema inventarão para substituí-los? O artigo diz que, por conta disso, a população deve esperar um aumento nos preços dos artigos frescos de super-mercado. Ora, é apenas mais uma desculpa para a elevação de tais preços ou realmente espera-se que as pessoas defendam o esquema de escravização contanto que mantenham seus poderes de compra?

Este programa existe desde 1961 e fez 50 anos em 2011
quando Kerry O'Brien começou a apresentá-lo.
Por outro lado, por causa de leis estritamente radicais e robustas, a importação de alimentos na Austrália é quase impossível. Por exemplo, quando tem enxurradas no norte do país, as plantações de bananas sofrem e o abastecimento das cidades torna-se mais caro, elevando os preços das bananas ao cúmulo do absurdo. Bananas importadas dos paraísos tropicais que rodeiam a Austrália simplesmente não conseguem ultrapassar as barreiras de importação colocadas pelo governo, tendo como desculpa as doenças e pragas que, se entrarem na Austrália através de tais importações, arrasariam com a cultura agrária australiana que é extremamente sensível a pragas. Mas suspeitamos de que não seja apenas este cuidado excessivo que limita as importações.

sábado, 2 de maio de 2015

Competência Australiana

Austrália currency (dinheiro australiano), moedas de 50 centavos
(enorme e dodecágono - polígono de 12 lados), 1 dólar, 2 dólares
(pequenina, dourada e grossinha), 5 centavos (pequenina, prateada,
fininha, encontra-se no chão em toda parte pois ninguém quer
pra nada, só trôco, 10 centavos e 20 centavos (maior);
cédulas plásticas de 100, 50, 20, 10 e 5 dólares. Desde 1988.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro. O dinheiro está manchando a reputação das universidades australianas, largamente procuradas por asiáticos a fim de obterem um diploma em Inglês para que possam trabalhar com negócios internacionais, fugirem da pobreza de seus países (sim, a China tem muito de Brasil e a maior parte de seu povo ainda vive no interior em condições de inanição), ou tornarem-se cidadãos do mundo.

A ganância é das universidades australianas pelo dinheiro que estes novos ricos trazem, principalmente da China, Vietnã, Filipinas, Malásia e da Índia, onde pais ricos pagam as despesas das universidades dos filhos e além disso também pagam por residências e moradias absurdamente acima da realidade do país.

Prédio principal da Universidade de Sydney: http://sydney.edu.au/
A Austrália é o país de língua inglêsa mais perto da Ásia inteira, e além disso tem um clima quente bem diferente dos países europeus sorumbáticos, enquanto os Estados Unidos andam sendo evitados devido ao grande número de problemas de sua sociedade atual. Além disso também, tem espaço para todo mundo sem se acotovelar como no país deles.

A certa altura, tais universidades começaram a utilizar agentes intermediários para fazerem o trabalho de recrutamento e triagem de candidatos a universitários, repassando para eles o trabalho de fazerem os testes e tratarem da papelada burocrática. O que eles não contavam é que é mais fácil haver corrupção em outros países do que na Austrália, já que aqui também existe corrupção, é claro, mas é mais controlada e discreta, e o fato é que, para os estudantes serem admitidos, testes de Inglês são facilitados, notas são aumentadas por “fraternidade” ou por propinas, e currículos são alterados com mentiras bem feitas que pareçam verdades. Por outro lado, as universidades australianas olham para o outro lado, aceitam e aprovam assim mesmo.

Faculdade de Medicina da Universidade de Canberra
(ANU - Australian National University): http://www.anu.edu.au/
O que acontece então? Aluno estrangeiro chega e quase se desespera ao não conseguir entender nada na classe, e nem sequer quando seus colegas estão conversando informalmente, se virando só com a leitura. Como confessou uma aluna chinesa, “eles pensavam que eu era anti-social porque era muito quieta, mas o que ocorria é que eu não entendia nada do que eles estavam falando”.

Como corolário, alguns professores acabam caindo na esparrela de sugerirem favores “especiais” dos alunos a fim de aumentarem suas notas, como sexuais, por exemplo (e isso foi flagrado pelos repórteres da TV nesta reportagem).

Daí nasce a cópia dos trabalhos dos outros para passarem, ou seja, o plágio. Atualmente mais da metade dos trabalhos feitos pelos alunos universitários estrangeiros é plágio, como disse uma professora entrevistada. Ela não passa estes alunos, mas as universidades então pedem a outros professores para reavaliarem, e estes acabam passando os alunos despreparados. Nas entrelinhas há a política de passar o máximo possível dos estudantes, e até o professor que não passar 80%, é mal visto e pode acabar sem emprego por isso. A desgraceira que os alunos vão fazer no futuro, depois que conseguirem se graduar e obterem emprego sem saber fazer as coisas, não parece ser preocupação desta indústria milionária mais interessada em pagar dividendos aos seus sócios, como num negócio corporativo, que é o que elas hoje são.

Universidade de Deakin, em Melbourne: http://www.deakin.edu.au/
Mais de $300 mil reais por um curso universitário é o que os pais destas crianças pagam por elas na Austrália, mais de $40 mil dólares por semestre, sem falar nas acomodações. Tanto dinheiro tem que dar algum resultado, e os alunos não voltam se não passarem, por isso, ao serem reprovados, eles inundam os endereços de emails dos professores com pedidos, implorando outras oportunidades, “fazendo o que os professores quiserem”, e até ameaçando se matarem.

A política das universidades hoje é dar mais chances aos alunos, permitir eles apresentarem um trabalho várias vezes, até depois que o período letivo terminou, contanto que passem. Afinal, no ano passado, os alunos estrangeiros contribuiram com $17 milhões de dólares para a indústria das unversidades australianas, segundo a rádio ABC.

Universidade de New South Wales (estado de Nova Gales do Sul)
https://www.unsw.edu.au/
Na semana passada meu marido soube do comércio de alunos que pagam empresas para fazerem seus testes online em cursos de universidade à distância, um outro escândalo exposto na mídia recentemente e relacionado com este.

A avidez dos alunos internacionais é feroz, e assim também é a avidez das universidades pelo dinheiro deles. A reportagem disse que os australianos natos,  não passam por isso, porque falam e entendem o Inglês bem e não precisam maquiar seus trabalhos.

Um dos resultados é que o padrão de ensino e a reputação das universidades australianas estão altamente ameçados de perder a concorrência internacional atualmente por causa deste estado de coisas. Para passarem os alunos, eles facilitam o programa. O nível acadêmico da Austrália no ensino médio está atrasado 3 anos com relação aos países asiáticos, muito mais exigentes, e por isso, entre os imigrantes também tem muito aluno de altíssimo nível.

Estilo das aulas. Veja mais aqui, em Inglês, 4 Diferenças Entre
Universidades na Austrália e na França
http://blogs.acu.edu.au/
international/3965/4-differences-between-university-in-australia-and-
france/
Nós já achávamos o sistema de ensino universitário australiano um desastre total, imagina agora depois do estouro de mais este escândalo. Nossos filhos passaram por elas e nos mostraram como era o sistema. Professores praticamente não existem como os percebermos no Brasil, de corpo presente para tirar dúvidas pessoais. Aqui é um professor para 500 alunos num auditório de alta tecnologia de imagem, ele não pode tirar dúvidas de todo mundo nem que queira. Dúvidas são tiradas em meia hora depois das aulas, em fila, porém as aulas são poucas por semana. Os alunos praticamente tem mais horas vagas do que com aulas, mas mesmo assim são considerados como estudando tempo-integral. A maior parte do tempo deles é para eles próprios fazerem suas tarefas, suas pesquisas por conta própria, irem para a biblioteca, montarem projetos em grupos e defenderem suas apresentações.

Aulas em auditórios. Intimidante, não é?
As férias são provavelmente as maiores do mundo. Tem férias a todo instante, quatro férias por ano, duas semanas a cada sete semanas, e umas férias finais na virada do ano que parece que não vai acabar mais, de novembro a março. Os alunos até esquecem que estão estudando, bom para quem consegue emprego nesse período como minha filha conseguiu um contrato por 4 meses.

Os alunos então fazem tudo sozinhos, muito trabalho, um em cima do outro, ou seja, para aqueles que não tem costume de estudarem por si próprios, nem pensem em vir estudar na Austrália e nos países afluentes que é tudo igual. Se vire sozinho, os professores só servem para riscar e dar nota, dar tarefas, indicar a direção para o aluno ir procurar suas respostas. Esse jeito de ensinar em universidade para nós é considerado um ultrage, principalmente pensando-se no preço absurdo que se paga, mesmo que haja crédito escolar para os cidadãos australianos pagarem depois de formados.

Aproximadamente mais de 200.000 estudantes internacionais estão estudando nas universidades da Austrália. A maioria deles são provenientes da China, Índia, Malásia, Singapura, Indonésia, República da Coreia, Hong Kong, Vietnã, Tailândia e Nepal. Veja aqui, em Inglês:

http://www.educationbrochures.com/


Veja mais o que diz esta reportagem que foi divulgada nos últimos dias.

GRAUS DE DECEPÇÃO

Por Linton Besser e Peter Cronau, 21 de abril de 2015

A Austrália tem sido dominada por um debate nacional sobre a forma de financiar o nosso ensino universitário.

Mas, talvez, haja uma questão mais importante: qual o valor disso?

Asiáticos são maioria, bem mais do que os próprios australianos que
não gostam de estudar
Uma investigação do programa de TV Four Corners (Quatro Cantos) expôs novas evidências alarmantes de um declínio no padrão acadêmico das nossas instituições em todo o país.

Professores e tutores estão de braços com uma maré de má conduta e pressão acadêmica de gerentes de faculdade a fim de fazer passar os alunos fracos. Muitos dizem que interesses comerciais imperativos estão tomando o lugar do rigor acadêmico.

Mas por que isso está acontecendo?

Como o financiamento do Governo Federal para as universidades diminuiu, os vice-reitores foram forçados a procurar outra fonte para preencher o vazio.

Futura cientista e os laboratórios das universidades, cada dia mais
sofisticados e caros.
E durante a maior parte das últimas duas décadas, eles estiveram tateando em um mercado em franca expansão – estudantes estrangeiros que pagam o curso inteiro completamente.

Nesse instante 40 universidades do país estão embolsando bilhões de dólares de estudantes que estão desesperados por um diploma de uma universidade australiana e com a possibilidade de um emprego e residência permanente.

Mas, para garantir um fluxo constante de estudantes de outros países, as universidades tiveram de garantir que seus requisitos de entrada fossem suficientemente baixos.

Esta semana, o repórter Linton Besser também forneceu evidências alarmantes de corrupção entre a rede de agentes no exterior que recrutam estudantes para o negócio em nome das universidades.

Não são salas de aulas, são vários auditórios, laboratórios e
bibliotecas. Se você não souber organizar seu próprio horário e sua
vida, você não pode estudar em uma universidade na Austrália.
“O risco é que eles estejam colocando candidatos nas universidade com falsas qualificações ou que eles saibam terem sido enganados nos testes, ou que estão tentando realizar algum tipo de fraude com o visto do passaporte” - diz um investigador de corrupção.

Ironicamente, esta situação também está colocando os estudantes internacionais sob enorme pressão.

Apesar das promessas dos agentes, e depois de conhecerem os requisitos de entrada das universidades, muitos não têm o nível de Inglês necessário para realizarem com sucesso um curso de graduação. 

É uma situação que deixa os alunos isolados e desesperados; um cenário alimentando um próspero mercado negro de plágio e de corrupção de alguns acadêmicos.

Uma professora experiente contou ao Four Corners que a falha em manter os padrões do curso que ela ensina significa que os diplomados podem colocar vidas em perigo, quando eles começam a trabalhar.

Auditório de aulas de advocacia da UNSW em Sydney
“Eles podem se achar numa situação em que são os únicos enfermeiros de plantão. E isso é algo que me assusta.” – diz a professora de enfermagem de uma universidade.

Com as universidades agora viciadas na renda derivada dos estudantes estrangeiros, muito poucos funcionários da universidade tem coragem de reconhecerem abertamente esses problemas. Aqueles que o fazem, dizem que enfrentam a possibilidade de perderem seus empregos.

GRAUS DE DECEPÇÃO, por Linton Besser e apresentado por Kerry O'Brien, foi ao ar na segunda-feira 20 de abril às 8:30 da noite na ABC. Foi reprisado na terça-feira 21 de abril às 10:00 da manhã e novamente na quarta-feira 22 à meia-noite. Também pôde ser visto na ABC News 24 às 08:00 da manhã do sábado seguinte, na ABC iview e na página da net abc.net.au/4corners.

Decepção

Nesta reportagem de março de 2012, uma estudante paquistanesa abre o verbo e diz que, nas universidades australianas, alguns cursos são como se os estudantes voltassem ao segundo grau. Ela diz que as universidades tem que melhorar para receberem os melhores alunos do resto do mundo, pois certos professores nem falam Inglês direito, as classes são imensas, e nas aulas os professores simplesmente ficam lá na frente e lêem os slides.


Ela diz que muitos alunos da Ásia, onde a educação é muito competitiva, chegam com grandes expectativas e sofrem grandes decepções. Ela também falou que o governo deveria investir em facilitar a vida dos estudantes estrangeiros, evitando deles terem que se acotovelarem em 10 a cada acomodação e também melhorar os transportes públicos.


Em 2012, havia cerca de 550.000 estudantes internacionais na Austrália a cada semestre (não só nas universidades) e no ano anterior eles haviam contribuido com 13,9 bilhões dólares para a economia. Veja artigo em Inglês aqui, Estudantes Estrangeiros Dizem que Algumas Universidades Australianas São Burras:


http://www.news.com.au/finance/foreign-students-say-some-australian-universities-are-dumb/story-e6frfm1i-1226294362274