sábado, 24 de maio de 2014

Eu e o Trem

Olá gente! Olha eu aqui de novo para falar dos trens de Sydney.

E não é que tive que me dobrar à superioridade dos trens de Sydney?

Nesta quarta-feira passada eu tinha um compromisso na cidade novamente, mas a TV estava dizendo que ia ter passeata e manifestação dos estudantes universitários contra o aumento das taxas pagas às universidades, então pensei comigo mesma, vou ficar presa no trânsito como da outra vez (veja o post "Maratona Balouçante" sobre isso). Não é só no Brasil que está tendo manifestações populares, e aqui tem ainda mais protestos contra o aumento dos impostos também.

Manifestações dos universitários em Sydney contra o aumento
das taxas escolares 
em 21 de maio de 2014
Choque com a polícia
Pega aqui, rasga alí
Gás lacrimogêneo, altercações e prisões
Então finalmente resolvi utilizar o novo Light Rail (trenzinho) que inalguraram dois meses atrás bem aqui na esquina de casa para ir para o centro. 

Mas o maldito trenzinho não chega até o centro, ele fica no meio do caminho, além disso custa duas vezes uma passagem de ônibus, daí dá pra você entender logo o meu mau humor de utilizá-lo, pois é muita falha pra um trenzinho só.

Enquanto isso, eu de leve, no Light Rail
(Trem Leve)
Porém, diante de ficar presa no ônibus e tentar outra alternativa, resolvi arriscar, até porque a estas alturas minha filha já utilizou o tal Light Rail e gostou, se bem que no dia em que ela tentou, houve acidente no caminho dele, e ela ficou no meio do trajeto, um pouco longe do seu destino. Porém deu pra caminhar até lá. Parece que todo dia tem uma coisa que impede esse trenzinho de chegar ao destino.

Light Rail na frente do mercado Paddy's Market
Então, resolvi tentar o Light Rail pela primeira vez e descer no local em que ele termina, que é na estação central, aonde se encontra com o tremzão. Lá fui eu curtir o trenzinho pela primeira vez. E não é que gostei?

Levaria 30 minutos pra chegar na estação central de trens mas lá pras tantas o condutor do trenzinho começa a falar pelos cotovelos no microfone, dizendo qualquer coisa sobre não poder ir além de certo lugar por causa das manifestações. E o jeito era eu descer e ir andando até a estação central dos trenzões e tentar aquele mesmo da outra vez.

Light Rail por dentro... não, eles não estão de cuecas, estão de farda
Só que eu não conhecia o lugar onde ele ia nos deixar. Então virei pro lado e perguntei a uma senhora que estava do meu lado se o condutor havia dito aquilo mesmo. Ela disse que sim, daí eu perguntei se ela sabia como se chegava na estação central dali. Ela disse que ia pra lá, se eu queria ir com ela. Eu disse que sim, e assim fomos.

Antes deixa falar do cobrador do trenzinho. Pois é, o cara sai pelo meio das pessoas como se estivéssemos nos anos 1800 (eu não era nascida mas vejo filmes), cobrando um por um dos passageiros. Mas a certa altura subiu tanta gente, tanto estudante que provavelmente ele não conseguiu cobrar todo mundo. Mas que coisa mais burra, pensei cá com meus botões. Cada coisa, numa cidade moderna destas...

E fomos eu e a senhora asiática pela calçada quando ela disse, eu vou entrar aqui um pouco, você vai me esperar? Eu disse, vou sim, e fiquei na calçada. Tratava-se de uma joalheria. 

Alí eu estava toda faceira quando se aproxima um negão sujo e maltrapilho. Ih, minha gente, isso aqui não é primeiro mundo coisa nenhuma. Ele começou a falar comigo, daí eu saltei com a minha frase padrão para espantar quem eu não estou a fim, que é "eu não falo Inglês" (falando). A pessoa diz, "sorry", e vai embora loguinho. 

Sem-teto engraxate em Sydney
Ele apenas se afastou um pouco, e eu me afastei mais ainda daquela coisa suja e malcheirosa, parecia um trem virado. O homem cuspia o tempo inteiro, e quando olhei de novo, ele estava cuspindo nas vitrinas da loja. Oxe, cruz, credo, t'sconjuro!

Pra viver nas ruas de Sydney tem que explicar porque
Depois de certo tempo, outro cara muito bêbado, já caindo por cima de mim, veio me pedir dinheiro e eu fingi não estar entendendo e soltei mais uma vez minha frase mágica "I don't speak English", botando mais uma vez outro sujeito para andar. Já vi que não dá para fazer ponto em nenhum lugar em Sydney que não se seja incomodada. Fazer ponto é força de expressão, vocês entendem...  

Google "sydney homeless" (sem-tetos de Sydney) imagens 
e verá centenas de fotos "interessantes"
O centro de Sydney é cheio de pessoas maltrapilhas que dormem pelas calçadas de uma longa rua comercial, por exemplo, que são os famosos "homeless" (sem teto). Eram 105.000 sem-tetos vivendo na Austrália no final de 2012.

Quando a mulher finalmente saiu da loja, e ela levou um tempão que deu pra eu observar bastante a vida passar em Sydney, eu contei tudo que tinha visto pra ela enquanto andávamos até chegarmos na tal estação de trens. "Você sabe como comprar a passagem?", eu disse "não", afinal eu estava em outra estação colocando meus pés pela primeira vez, e ela disse, vem comigo que eu vou comprar também. A mulher ia pra o aeroporto pegar o avião para Queensland, o estado em cima do nosso, direção oposta à minha que ia para o centro, mesmo assim me levou até a plataforma que eu embarcaria, pois eram perto uma da outra. E assim nos despedimos.

Ela tinha vindo todo o caminho agarrada na bolsa. Devia ter comprado alguma jóia na joalharia. Ela me disse que o caminho pelo parque era mais perto, mas ela não andava em parques em Sydney. Pelo jeito como ela se agarrava com a bolsa, entendi tudo. Então não se pode caminhar tranquila pelos parques de Sydney também não, né? Okay, paraíso.

O trenzão e metrô de Sydney
Dali em diante vocês já sabem, peguei o trem chacoalhante e fiquei tonta de novo. Tentava não olhar pra nenhuma cena balouçante, mas não tinha jeito. Cada vez que olhava pros outros vagões, cada um indo pra um lado, só faltava desmaiar de tontura.

O trem chacoalhante de dois andares
A volta foi de ônibus, e levei um tempão pra variar. Sinceramente, é bem mais rápido andar de trem em Sydney, só agora que sei porque fui obrigada a utilizá-los. Cá pra nós, vamos dar o braço a torcer, são bem confortáveis e rápidos. E o pequeno Light Rail que me deixa na porta de casa também é rapidinho porque não tem tráfego, a linha é só dele, né? Se não fosse tão caro...