sábado, 29 de março de 2014

Quem Tem Boca...

No último post eu mostrei que, mesmo aqui na Austrália, se você tem boca, também vai à Roma.

Eu digo “mesmo aqui na Austrália” porque não é a maioria das pessoas que gosta de dar informações não. Aliás, se for australiano da gema, muito pior.

Tem mulheres que entufam a cara pra você, deixando bem claro que não querem conversa, muito menos responder a suas perguntas imbecis. Só pode ser assim que pensam. Estas pessoas foram criadas ao Deus dará, e se estão vivas é por puro acaso, obra e graça do Senhor, que eles nem acreditam, então eles pensam que você também deve ser assim, largada às traças pra se virar sozinha.


Povinho arrogante...
Até meus filhos assimilaram a cultura australiana. Ontem ambos estavam cada um numa cidade diferente, e quando eu lhes mandava mensagens pelo celular perguntando sobre como estavam se virando, eles respondiam, “sim”, “é”, “sim, sim e sim”. Já chegou? “Sim”. Tá muito frio? “Não”. Almoçou direito? “Sim”. Vai chegar cedo amanhã? Encontrou seus amigos? Está se divertindo? “Sim, sim, sim”.

Ainda bem que, pelo menos em casa, eles falam bastante e contam um bocado de coisas. Vai ver que eles tem vergonha destes pais invasores da privacidade e pra não chamar a atenção dos “amigos” e eles não caçoarem deles, eles respondem provavelmente até sem olhar, dentro do bolso ou da bolsa, passando o dedinho que já escreve a palavra “sim” automaticamente e ninguém nem vê, né?


Embaraçado, envergonhado...
Mas, é verdade. Você acaba desistindo de perguntar às pessoas porque simplesmente você não acha ninguém para perguntar. Mas eu não desisto, sou mulher, e mulher pergunta, quem não pergunta é homem. Até parece que neste pais sé tem homens, porque metade das mulheres querem ser homens também. 

Perdão, eu conheço você?
Uma das coisas que mais me deixa feliz no Brasil é a solicitude das pessoas. Quando a gente pára na frente de um mapa daqueles do metrô, param duas ou tres pessoas querendo ajudar. Quando a gente sobe num ônibus frescão no Rio de Janeiro ou pega um táxi, o motorista se elege nosso guia turístico. E isso não quer dizer que estão atrás de dinheiro ou gorjeta, é simplesmente pelo prazer de servir e de passar uma boa horinha agradável, conversando e descobrindo coisas, e até quem sabe, fazendo amizade.

Outro dia eu estava me lembrando de uma pá de brasileiros que vive aqui, que encontramos no clube dos brasileiros. Todos praticamente se adaptaram porque eles dão o telefone, ligam uma vez, pra nunca mais. Falam que vão fazer isso e aquilo, e desaparecem. Assim mesmo são os australianos. Quantas amigas australianas eu não arranjei com quem eu ia tomar café uma única vez e depois elas torciam a cara quando cruzavam comigo no shopping? Porque seria? Será que tenho doença contagiosa? 

... que nem eu fosse a morte...
Não, o problema não é meu, porque quando elas “decidem”, do mesmo jeito elas olham pra mim quando cruzam, param pra conversar e até beijinhos saem de vez em quando. É que elas são assim mesmo. Suponho que elas só falam com você quando “convém” (para elas, é claro).

sábado, 15 de março de 2014

Maratona Balouçante

A minha maratona de hoje merece um post.

Lá vou eu toda faceira para a casa de uma amiga numa bela e quente tarde de quarta-feira, de ônibus como sempre faço periodicamente, sem ter a menor noção da aventura que se me acercava. Esta amiga mora no centro de Sydney, e eu vinha de um subúrbio a apenas 10 quilômetros de distância em direção sudoeste.

O trânsito estava particularmente caótico porque tinha havido acidentes em várias partes da cidade, mas o que me aguardava pela frente simplesmente não “estava no gibi”.


George Street, Sydney
O ônibus parou e não andou mais por mais de 1 hora. Sim, literalmente parou, e não se mexia mais. Com o tempo as pessoas foram descendo, e eu fui ficando pois ainda estava muito longe do meu destino. O trânsito ali na localidade chamada Broadway estava impossível. Eu já tinha visto na news da televisão antes de sair que tinha havido também um incêndio numa obra lá no centro, num local chamado Barangaroo ("burangarú", mistura de baranga com canguru), e que por conta disso, as bases de um daqueles imensos guindastes de construção, como os dois que caíram recentemente e se esborracharam no chão, estavam arriscadas de ruir também. Quer dizer, uma das coisas comuns que acontecem em Sydney é levar um guindaste gigante na cabeça.


Bem, este guindaste não caiu exatamente na cabeça do povo em novembro passado...
E nada de o tráfego fluir, nada dos carros andarem, nada do ônibus sair do lugar. Ele foi se arrastando até mais adiante, parando na frente de uma enorme parada de ônibus que eu chamo de “telhado de vidro” (Central Square), quando o motorista então disse, “quem vai para o centro, por favor, pegue o trem porque não tem a menor condição nem de carro nem de ônibus sairem daqui”. “Mas meu senhor, o que aconteceu?” “E eu sei?” Ora, como é que os motoristas de hoje, cercados de câmeras pra todo lado, cheios de telefones celulares, circuitos de TV, o escambau, ainda assim não são informados sobre o que está acontecendo, minha gente? Ou seria de propósito? Afinal, se fosse um ataque terrorista, “eles” não iam querer que o povo entrasse em pânico, não é? Uma boa desculpa.


O telhado de vidro
Ai meu Deus, e agora? Eu nunca andei de trem aqui em Sydney e nem na Austrália inteira. Eu nem sei o que é um trem. O único que andamos foi aquele suspenso que dava a volta por cima de Darling Harbor, mais para turistas e bem pequenininho. Hoje em dia ele nem existe mais, só os trilhos suspensos. Como é que eu vou fazer?


Lá vai eu procurar um trem nesse emaranhado de linhas...
Perguntei ao motorista, e ele me falou, “olhe, você desce aquelas escadas rolantes, que ficam próximas à tal parada de ônibus, e vai lá pra baixo que você acha como fazer”. Okay. Lá vou eu me enfiando naquele buraco imenso. E ando, e ando, e procuro um policial, um funcionário qualquer pra perguntar como é que eu faço pra comprar um ticket, pra localizar um trem, pra embarcar, e nada. Não se encontra nada disso na Austrália, é você por si próprio, entregue às baratas. Nas paredes uma profusão de códigos de linhas, horários, o diabo a quatro, uma loucura, não dava pra entender nada.


Pois é, a estação central é velha pra caramba...
Finalmente em minha direção vem uma senhora sem fones de ouvido. Sim, porque praticamente todo mundo se isola do mundo atrás de seus malditos fones de ouvido hoje em dia (até eu mesma), parece até de propósito. Fico imaginando como é que se viram estas pessoas que vem pra cá e mal falam Inglês, pra destrinchar uma situação como esta. Deve ser um sufoco atrás do outro.

“Minha senhora, como é que eu compro um ticket de trem aqui? Onde?” “Ah, minha filha, pegue este corredor e vá até o fim, mas ao invés de subir a escada no final dele, dobre à esquerda”. “Obrigada, minha senhora”, e lá fui eu, andando léguas dentro de um corredor imenso, cruzando com aos alienígenas dos fones nos ouvidos, até chegar no tal lugar que a mulher falou. Surpresa! Um imenso salão com 4 filas enormes. 2 filas para caixas eletrônicos, 2 filas para pessoas humanas. Lógico que fui pra fila de pessoa humana. Estava um calor dantesco.


Corredores quilométricos...
Depois de 20 minutos na fila, finalmente consegui comprar um diabo de um ticket. E que ticket caro, minha gente, uma passagem só de ida custa quase 4 dólares (cerca de 8 reais). Eu também teria que saber a que plataforma me dirigir, então perguntei a um chinês na minha frente que me disse para perguntar ao comprar o ticket, caso eu soubesse pelo menos o lugar aonde queria ir, engaçadinho. Mas o infeliz do vendedor de tickets me informou a plataforma errada e me perdi novamente, então um senhor me viu atrapalhada e perguntou se queria ajuda, então eu disse que precisava ir para determinada estação, mas naquela plataforma informada não tinha o meu destino, então ele disse, “não é aqui, siga mais pra frente que é em outra plataforma”. 

Ao chegar na tal plataforma, ela dividia-se em duas e aí me perdi novamente, quando mais um gentleman a quem perguntei aonde pegar o trem me apontou o local. Finalmente entrei no bendito vagão para seguir para o meu destino. Não queria nem sentar, de olho pra não perder a estação em que devia descer.


Trens de dois andares
Prestou não, comecei a passar mal. Fiquei tonta e quando eu olhava ao redor, tudo se mexia de forma desconcertante. Se eu olhava pra frente ou pra trás, os outros vagões iam pra um lado, enquanto o meu ia para o outro, me deixando cada vez mais tonta. Era um trem muito balouçante!


Não estava assim tão vazio...
Daí o desenganado do trem pára numa estação com dois nomes, e um dos nomes era justamente o do lugar que eu queria ir. Oi, como é que é, e agora? Devo descer nesta ou na próxima? Perguntas de novo e concluo que a próxima é mais perto de onde eu quero ir, que é Circular Kay, mas também poderia ir por alí, só que andaria mais. Haja paciência.

Fui para o andar de cima...
Finalmente o trem chega na minha estação. Desço do trem e sigo para o que parecia ser a única saída daquela estação. Nesta minha peregrinação, pelo menos encontrei uma pá de uns 4 ou 5 homens muito simpáticos e galantes que me ajudaram a acertar meu passo. Um deles me falou que aquela era mesmo a única saida, mas quando cheguei lá em baixo, a porta não abria. Esta estação tinha a mais bela vista de Sydney possível, porém já estou cansada de olhar aquela vista.


Vista entediante...
Oi, como é que eu dou o fora desta toca de minhocas gigantes, minha gente? Já estou ficando psicótica. Daí vinha um asiático sem fones de ouvido e eu perguntei, “meu senhor, esta porta não quer abrir pra eu sair, dá pra você arrombá-la para mim?” "Ah, a senhora tem que passar com seu ticket naquelas borboletas e então conseguirá sair da estação”. “Obrigada, desculpa minha ignorância, é que não estou acostumada a tomar trens”. Parecia os canberranos que se vangloriavam de dizer sempre na minha cara, "eu nunca tomei ônibus na vida". Em Sydney, pelo menos, ninguém pode dizer tal asneira, só com relação a trens...


Trens balouçantes (foto de RailPictures.net)
Lá dentro da toca estava um calor fenomenal, e quando cheguei na casa da minha amiga, depois de subir uma ladeira bastante íngreme, estava toda esbaforida. O que em geral leva uma hora para eu chegar lá, hoje me tomou 2 horas e meia! O que vocês acham disso? Vocês acham que é viável morar numa cidade caótica como esta, e ainda dizer que é uma das melhores cidades do mundo pra se morar? Se isso for verdade, eu acho que prefiro o inferno de Dante.


Cheguei no meu destino 2,5 horas depois
E agora, como é que vou voltar pra casa? A cidade está estagnada, ninguém anda nem pra frente, nem pra trás, só por baixo do chão, dentro de minhocas gigantes que lhe deixam tonta. Eu não quero passar por outra dessa de ter que pegar outro trem chacoalhante. Minha amiga vai ter que me levar pra casa. Ops! Mas como é que ela vai conseguir sair de casa? Será que tem alguma outra via livre pra se trafegar? Eu não sei o que vai acontecer, fica pro próximo episódio.

Pelo menos embaixo do chão os guindastes caindo não atingem nossas cabeças...


Não, não estamos na Índia...
Bem, o próximo capítulo é agora porque já voltei pra casa para terminar este post. Minha amiga me trouxe lá pra de noite, utilizando umas ruas alternativas.

Quem quiser aprender a pegar trens em Sydney, aprenda aqui, se for capaz:

http://sydneymovingguide.com/train/

Para quem ama trens em Sydney e clássicas fotografias em preto-e-branco:

http://foundinthesubway.com/

Quer saber como são as estações de Sydney?

http://www.flickriver.com/photos/brianapa/sets/72157603586873135/

Quer conhecer mais um pouco da Sydney pra turistas? Este é um raro bom vídeo. Dá pra ver até as mulheres bêbadas caídas na sarjeta da noite e duas cenas da Estação Central de trens a qual só conheci esta semana.

https://www.youtube.com/watch?v=kRI-_04Xlmo&feature=player_embedded

Apesar das minhas reclamações diárias, nada se compara a isso aqui, se for verdade:

http://olhosinquietos.blogspot.com.au/2013/08/a-viagem.html

quarta-feira, 5 de março de 2014

Jantar Fora

Oi, minha gente, cá estou eu de volta aguentando mais um ano destes 15 anos de Austrália. Austrália era só pra dois anos.

No post "Feliz Natal de Luz", me referi a que não existe mais nada interessante para fazer em Sydney. Minto. É quando as pessoas passam para outro estágio. O problema é que não quero passar para outro estágio, até porque é um estágio bem caro e de certo modo, "perigoso".

É quando as pessoas passam para o estágio de... jantar fora! 

Na falta do que fazer, as pessoas então inventam de jantar fora e ir para espetáculos como obrigação. Um para o prazer da boca, comer, comer, comer, o outro para a sensação "cultural".

Bem, ir para espetáculos em termos de teatro ou cinema não faz minha cabeça. Prefiro ler meus livros de papel, um atrás do outro em casa e assistir à minha única estação de TV brasileira acessível pela internet, a Globo, através de assinatura baratíssima. 

O melhor é que posso escolher o que quero assistir, pular as partes das novelas que são introduzidas pra fazer elas renderem no tempo, e ainda enviar os links de reportagens interessantes para as pessoas assistirem também, o que faço sempre com as reportagens positivas, que são minoria mas ainda existem.

Ah, sim, eu gostava muito de cinema e teatro (ah, se alguns cinemas de Recife falassem... praticamente comecei namoro com meu marido dentro de um cinema que hoje só passa filme pornô... acho que o nome do cinema é Astolfo, o mesmo nome da travesti Rogéria... ou será que foi o Risk?).

Então sobra o jantar. Assim como no Brasil, para se jantar fora gasta-se uma fortuna. Já deu pra perceber que não sou abastada, e se fosse, ajudaria muita gente antes de gastar com jantares em que se come granvanha, um tiquinho coloridinho aqui, outro tiquinho ali, até você ficar sem as calças. 

Saskia Beers Barossa Farm (Fazenda da Sra Saskia Beers em Barossa, o vale dos vinhos, South Australia, http://saskiabeer.com/)
Será que preciso falar que hoje em dia está acontecendo uma verdadeiro pandemônio com relação a comida e mestre-cucas, envolvendo competições e mais competições uma atrás da outra, entre equipes de cerca de 10 candidatos que vão se extratificando semanalmente, a fim de ganhar prêmios e encher o tempo das televisões comerciais? Será preciso dizer que, além destas séries de estilo big-brother, a maior parte dos programas da Austrália são sobre comida, mestre-cucas ou então sobre casas? Lógico, propriedades e prazer pelo paladar, para quem quase nunca consegue prazer de outro jeito nesta cultura. 

Restaurante Altitude no Shangri-La Hotel, the Rocks, Sydney
Conheço pessoas que são "adicted" (viciadas) em programas sobre casas. Sobre decoração, sobre arquitetura, sobre jardinagem, sobre construção, marcenaria, sobre tudo o que você pensar sobre o sonho da casa própria, que para os australianos é o paraíso na terra. E sobre comidas, nacionais e internacionais, algumas vezes misturadas com viagens, descobrindo-se "flavors" (sabores) pelo mundo afora. Destes protagonistas, a maioria é homem. Raramente aparece uma mulher cozinhando hoje em dia, a não ser quando é para competir e ganhar dinheiro, bem típico de como comporta-se a australiana hoje em dia, repassando suas tarefas domésticas para homens "bonzinhos" e desavisados. 

Mas, voltando ao jantar, nós não pagaríamos os olhos da cara para reservarmos uma mesa e uma hora pela internet ou pelo telefone, sentarmo-nos num ambiente estranho, passarmos um sufoco para escolhermos um prato exdrúxulo sem saber tudo o que vem dentro, e não podermos ficar conversando o quanto quisermos depois do jantar porque senão eles nos enxotam com a vassoura para abrir vaga para o próximo, "next!", correndo o risco de passar mal ou ficar com fome, quando no prato vem uma tira de cenoura com um melzinho ao redor, uns pinguinhos e uma folhinha de coentro com nome estrambótico como "Devils on Horseback" (Demônios a Cavalo). Pior ainda quando vem tanta pimenta que você não consegue comer e perdeu seu dinheiro.

Ratatouille
Descobri também que as pessoas consideram "jantar fora" como um programa que não é de índio, lógico, para experimentarem "novas sensações", "novos lugares", "novos paladares", para saírem da monotonia. Ora, apesar da depressão e da monotonia da minha vida na Austrália, não acredito que pagar os olhos da cara para me aborrecer pague o preço de buscar novas sensações. Sensações eu já tenho bastante na minha vida (dêem asas às suas imaginações), as melhores possíveis, não preciso ficar "teasing" (tentando) meus outros sentidos. Para mim, as soluções arquitetônicas ou os cenários estrambóticos dos restaurantes não significam nada, e particularmente aqui na Austrália, garçons não são exatamente feitos para lhe dar prazer e servir ao cliente. Já falei aqui que antes eles preferem que a gente se ajoelhe aos seus pés e peça pelo amor de Deus para ser atendido. 

Ah, é nestas horas que me dá uma saudade inaudita dos restaurantes brasileiros por peso. A gente fica uma semana sem comer só pra se refestelar num deles e comer, comer, comer até estourar (bem, exagerei um pouco aqui, a gente só pula uma refeição, he, he). Ah, a gente pode comer desde escondidinho até salpicão, feijoada até sarapatéu, língua até canelone, tudo de uma vez só, numa mistura abençoada. Nada de gravetos a peso de ouro, pois o preço sempre paga tal estrago. Sem falar nos churrascos à gaúcha, é claro, a comida brasileira de exportação por excelência, que faz os estrangeiros suarem literalmente (nunca ouvi falar nisso, só aqui na Austrália, dá suadouro porque se come muita carne, deve ser a falta).


Restaurante em Caicó, Rio Grande do Norte, Brasil
Sou chata, né? É difícil a gente sobreviver sem entrar na conversa dos outros. Vá eu seguir a "cultura australiana" e lá estou eu indo à falência e emagrecendo até adquirir bulimia se for depender dos restaurantes chiques daqui, só para olhar a paisagem pela janela (restaurantes com vistas para a cidade). O que eu gosto mesmo é de ir aos restaurantes de churrasco gaúcho brasileiros em Sydney, ou então a alguns portuguêses. Discriminação? Não, é simplesmente porque gostamos da comida e ela vem em quantidade à lá brasileira, além dos preços serem razoáveis. Pago pelo prazer de ser bem servida por garçons brasileiros bem humorados ou no mínimo "adaptados", uma mistura de australiano com brasileiro, o que na minha opinião, é a melhor cultura possível, tantinho daqui, tantinho de lá.

Ah, esta minha última frase denota que o australiano tem alguma coisa que preste dentro dele. Bem, meu marido diz que a melhor cultura é a mistura das duas porque pega-se o que há de melhor em cada uma (e não o que há de pior, por favor). Se o australiano fosse sincero como o brasileiro nordestino ou vice-e-versa, o brasileiro seria mais educado, respeitaria mais a privacidade dos outros sem distanciar-se emocionalmente, teria sempre boas palavras de encorajamento para dizer em qualquer situação e teria uma espécie de "fino-trato" ao lidar com as pessoas tipo educação e respeito, enquanto o australiano iria aprender o que significa amor e amizade, tornar-se descontraído e feliz de verdade, ter mais consideração e menos discriminação com os outros, só pra citar alguns aspectos. Esqueçamos o lado ruim das nossas culturas, por favor.

Portanto, como eu comecei este post falando que mentia sobre as atrações de Sydney, quando a gente enche o saco da mesmice de tudo, só sobra as sofisticações dos sentidos, ou seja, ir a restaurantes ou a shows. Quanto a shows de música, sinceramente, bastaram os que fui no Brasil, não são minha praia também não.

Alguma sugestão dos leitores? Por favor, não me mandem fazer excursões ou cruzeiros. Pra cada um eu tenho uma coleção de críticas pra despejar também. Parece que, sem querer, estou me tornando uma coroa inglêsa "cranky" (rabugenta). O estereótipo da senhora inglêsa é justamente esse, intolerante, crítica e mal humorada. Pois bem, esta sou eu. Porém, como sou brasileira, então não sou assim com as pessoas, muito pelo contrário. Vai ver que é porque acredito em Deus, pecado mortal na Austrália e motivo de zombaria...

Só tenho prazer de ir almoçar ou jantar fora quando estou no Brasil. Por quê? Porque geralmente estou acompanhada de várias pessoas, minhas amigas, primos, parentes, amigos, uma pá de gente. Além disso, podemos conversar muito sem nos preocuparmos em sermos despejados da mesa. Frequentemente no restaurante também tem uma mesa imensa cheia de vários tipos de saladas e pratos frios, sem falar em outra mesa repleta de sobremesas onde você pode comer não só uma, mas 10 ao mesmo tempo, se quiser, um verdadeiro sonho. Sem falar na famosa salada de frutas que meu marido baba. 


Salada de frutas brasileiras
Não, aqui na Austrália não tem salada de frutas, e se tiver, vão ser só 3 frutas tipo maçã, melão e abacaxi, no seco, sem suco.  

Uma vez meu marido foi a um almoço anual com a turma de trabalho, fez esta concessão para se arrepender amargamente depois. Neste, ele tinha que pagar do próprio bolso. Tá bem, vamos ver como é que é e dar o dom da nossa graça. O prato foi um desastre, uma simples saladinha com nome pomposo, lhe deixando com fome, mas o mais interessante foi que a garçonete, pra variar, não sabia quem havia pedido o prato, então passou direto dele. Quando ele, que não sabia o nome da coisa e também não estava a fim de perder mais tempo pois o prato havia demorado muito por ser "diferente dos outros", estalou os dedos para chamar a atenção da nojenta. Ela então voltou, largou o prato lá mas fez questão insolente de dizer que não era preciso estalar os dedos (que ela não era cachorra não, ficou subentendido). Ora, e porque não? Vai ver que só se estala dedos pra cachorro aqui na Austrália. Mas, então, o que é que ela era mesmo? 


Se aprochegue...
Meu marido jamais retornou àquele restaurante, obviamente, pois foi convidado várias vezes depois. O diabo é que as pessoas daqui acham isso normal, engolirem estas coisas sem reclamarem, elas não conhecem outros lugares para ter o que comparar, mas nós temos. Quando o brasileiro abre a boca no exterior para dizer "eu estou pagando, me atenda direito e com respeito", não sei nem o que estas coisinhas nojentas pensam, a agora nem mesmo estou interessada. Antes eu achava falta de educação do brasileiro, mas depois de alguns anos vivendo no exterior, eu acho eles certíssimos e corajosos. É isso mesmo, eles merecem.