sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cachorrada Australiana

Hoje, 7 de novembro de 2013, vi um documentário no programa 7:30 da TV ABC sobre a exploração de cães de corrida na Austrália e fiquei chocada.

Para quem não sabe, eu adoro animais, e sofro muito quando venho a saber que está havendo crueldade com algum animal em algum lugar (menos cobras e lagartos). Mas vivendo aqui na Austrália, de vez em quando estou com meu coração na mão. A um tempo atrás foi o problema da crueldade com as vacas importadas da Austrália nos matadouros da Indonésia.

Agora estoura este escândalo nas corridas de cachorros.

Cachorrada de corrida
Minha filha estudou numa escola que alugava andares num prédio bastante esquisito. O prédio fica num parque enorme, até com vista para uma baía, com direito a viaduto de trams (trenzinhos urbanos). 

Na frente deste prédio que foi construído no formato de meia lua, fica uma pista de corrida ao redor de um campo de esportes gramado. O prédio é muito vistoso porque os andares tem imensas vidraças que dão para este circuito, e em cima tem uma marquise enorme que lhe dá um tom de arquitetura arrojada.

Observatório de cães
Pois bem, naquele campo existe uma pista que é de corridas de cachorros. O escândalo estourou por causa de novas leis para testar os cachorros este ano, então vários criadores de tais cachorros foram pegos fazendo o que não devem com os animais. Onde rola muito dinheiro, rola corrupção, então estas são as palavras envolvidas no escândalo nacional: propinas, ficção, fraude, eutanásia, falta de transparência, jogo de azar (“gamble”).

Exames obrigatórios mostraram que grande percentual dos cachorros, que são da raça Greyhound (Galgo), estavam sendo drogados. As drogas variam de cocaína, anfetaminas, cafeína, esteróides anabolizantes, testosterona nas cadelas até viagra para os cães ficarem louquinhos.


Galgo by Stephen Laberis
Denúncia de crueldade animal também, porque nem todos os cães desta raça servem para correr, então eles são assassinados via eutanásia. A repórter falou que só com sorte um destes cães vai parar num veterinário para sofrer eutanásia. Tudo é feito domesticamente mesmo. Só 40% deles correm. Está uma briga danada pelas pessoas querendo salvá-los adotando como “pets” (bichinhos de estimação) por serem doces e amigáveis. Eles são bem magrinhos, esquisitos e bicudos, com pernas enormes e uma silhueta de dar inveja às top models de hoje, coitadinhos. Por serem assim, eles correm muito que nem gazelas no deserto africano.
Cachorro Greyhound

Na corrida colocam algo na frente deles que corre num trilho ao redor da pista. Eles saem atrás desses negócios que os fazem correrem. Será que são salsichas ou belos pedaços de carne?

Particularmente o que partiu meu coração foi ver um se desgarrar da pista e se estatelar lá na parede protetora, provavelmente quebrando uma perna, e gritando, coitadinho. Um outro também gritou muito numa jaula de um criador que denunciou o esquema de jogo de azar e exploração dos cachorros. Não sei se este era o mesmo que sofreu o acidente, mas ele estava com curativo na perna. Os outros donos de cachorro sacrificam eles por isso, tal como se faz tradicionalmente com os cavalos, que não valem nada se não dão dinheiro. É muita crueldade. 


Galgos
Com as drogas, criadores que amam seus cachorros não tiveram mais chances de ganhar corridas, virou negócio de cafajeste. Os safados chegam a pagar propinas para que os resultados dos exames de urina dos cachorros não mostrem que eles estão drogados. A corrupção está comendo solta. E vocês que pensavam que propinas eram uma instituição brasileira, né?

70.000 cães corredores são mortos todo ano na Austrália, é um número muito alto. É alta cachorrada que eles fazem com os cachorros. As apostas são altas, como em todos os jogos de azar e cassinos que são permitidos na Austrália e fazem a desgraça de muita gente. 

Opa, foto errada
A Copa de Melbourne

Até hoje não entendi porque é que a Austrália inteira pára durante uma tarde no início de Novembro todo ano para assistir uma tal corrida de cavalos em Melbourne que dura só 15 minutos. É a coisa mais ridícula que você possa imaginar. Enquando o Brasil pára 4 dias para dançar carnaval, eles aqui param meio dia para ver os cavalos na TV durante 15 minutos. Alguns lugares fazem deste evento um espetáculo com comidas, bebidas e gente bem vestida, e promovem apostas domésticas, as sempre presentes apostas. São o embrião da jogantina nacional, o nascimento das apostas. Lá em Melbourne, rola muito dinheiro e as apostas são milionárias, bem como os cavalos e seus criadores.


A copa equina de Melbourne
A particularidade desta “festa” (eu diria “programa de índio”) são os chapéus das mulheres. 

A atração dos chapéus riquififados chega a ofuscar os cavalos, tal é o “esplendor” caleidoscópico. 

Copa dos chapéus
Cada uma pior, quer dizer, melhor do que a outra, galinhando para os repórteres que adoram mostrá-las todas sorrisos. Patricinhas e peruas, montadas em seus “high heels” (saltos altos) com vestidos espalhafatosos, elas colocam chapéus que concorreriam com os das mulatas das escolas de samba da Sapucaí no Rio de Janeiro. Cada chapéu mais ridículo do que o outro, no entanto, elas gostam e estão sempre crentes que estão abafando, pois com certeza são fotografadas para as notícias da semana inteira. É uma tradição, provavelmente britânica e o jeito é trocar de canal cada vez que eles tocam no assunto.


Os chapéus de Melbourne, em toda a Austrália
A Austrália Ama Seus Bichos

Todo mundo enche a boca pra dizer que este país ama os animais. Eles idolatram os cavalos nesta corrida, os cães corredores são seus heróis e lhes rendem grana, muita grana, e praticamente todo mundo tem “pets” (bichos de estimação). Tem gente que tem os “pets” mais exdrúxulos do mundo, tipo iguana. Mas quando você quer alugar uma casa ou apartamento e eles descobrem que voce tem um “pet” (cachorro ou gato), nessas horas eles odeiam animais e você junto. Você tem que procurar 10 vezes mais do que as pessoas comuns até achar um senhorio que aceite o seu bicho de estimação, e quando não tem que oferecer mais do que eles estão cobrando para ter tal regalia. 

Isso é porque a Austrália ama seus bichos de estimação, imagina se não amasse. O amor é apregoado aos ventos em mais amostras de profunda hipocrisia e falsidade porque é tudo mentira, amor de fachada. Isso porque o percentual de pessoas que possui bichos de estimação é dos maiores do mundo, mas também é muito alto o número de pessoas que abandonam seus animais enquanto outras pessoas tem dezenas de cachorros e gatos em casa no meio da maior imundície, que é quando os vizinhos reclamam, denunciam, e acabam filmando para a televisão. Como é que pode, me digam? Vocês acham o Brasil contraditório? Pois pensem duas vezes.

Bichos, não senhor
Se você vai comprar uma casa com quintal, ninguém vai perguntar se você tem cachorro ou não, mas se for comprar um apartamento, tem que ligar primeiro para a administradora do condomínio pra pedir autorização para seu cachorro, senão, nada feito.

Apesar deste amor todo declarado aos ventos, muitos vizinhos reclamam dos bichos dos outros, mesmo de quem cuida direito e o bicho não incomoda. Um exemplo belíssimo é o da vizinha de uma amiga minha que tem um cachorro que está ficando velhinho. Quando ele espirra, pode ser que venha a sujar o corredor de acesso aos apartamentos. Pois bem, esta mulher sempre sorri para minha amiga e afaga o cachorro dela, no maior amor, respeito e amizade. Pois foi ela quem denunciou na portaria que minha amiga deveria limpar o corredor por causa da sujeira do seu cachorro. Minha amiga foi admoestada publicamente em meio ao hall de entrada pela porteira, um verdadeiro vexame que a deixou possessa. Ora, porque aquela p... que não me disse pessoalmente? Porque aqui as pessoas são assim, estou cansada de dizer, elas não tem coragem de lhe enfrentar, então elas sorriem pra você mas lhe enfiam a faca pelas costas. São traiçoeiras, preferem agir sorrateiramente por trás, não se pode confiar nelas, e por conta disso, é muito difícil se fazer amizade com pessoas falsas desse jeito a não ser que você seja igual a elas, coisa que não sou.

Poor things (expressão muito usada, "pobres coisas")
Alguns brasileiros se gabam de soltar o verbo e rodar a baiana quando estão descontentes com alguma coisa, denunciando os perpretores que ficam caladinhos. Estes brasileiros pensam que ganharam a parada e intimidaram o culpado. Não sabem eles que vingança é um prato que se come frio, e o que esse pessoal puder fazer pra preparar-lhe a cama, saia de baixo e da vista deles. Eles não são assim tão anulados quanto parecem, é só fachada. Por dentro arde um demônio.

Quando morávamos em casa, havia cachorros nos dois vizinhos. Um deles defecava sempre no oitão da casa que dava para a parede da nossa garagem, e era onde mantínhamos os latões de lixo. Trafegar naquele oitão era um terror por causa do cheiro e das famosas moscas grudentas de Canberra. Os donos simplesmente não limpavam e o local ia acumulando excrementos. Graças a Deus esta família logo se mudou.

Em compensação a do outro lado adquiriu um cachorro “usado”, destes abandonados pelos donos anteriores, uma verdadeira praga australiana. Todo mundo faz isso a certo grau e chega a existir bons samaritanos que mantém hotéis para animais abandonados, às custas de doações. A organização principal chama-se RSPCA e é internacional. Eles tem caminhonetes que recolhem os bicho abandonados quando alguém denuncia onde eles estão, vão buscar, e colocam neste verdadeiro hotel. Eles então anunciam os bichos para adoção, e muitas pessoas quando querem bichos, vão lá buscar um dos enjeitados, coitadinhos. As pessoas não titubeiam, tudo é motivo para abandonar os bichos. Tem até gente que vai lá só para fazer os cachorros passearem. Estes com certeza amam os animais de verdade.


Porque "petty crimes" são chamados assim? Crimes de estimação (como bater carteira)?
O cachorro da outra vizinha então era muito mal tratado. Me dava uma pena enorme ver o coitadinho sem ter onde se esconder do sol escaldante através da cerca do quintal. Eu então pegava minha mangueira e dava uma chuveirada no coitadinho que ficava louco de alegria e agradecido. Por vezes eu também dava comida, pois os donos saíam por dias e deixavam o cachorro lá ao léo, latindo. Eles nunca souberam disso.

E todo mundo já sabe que meu cachorro não pode botar o pé na rua que contrai as pulgas dos outros. Estes bichos de Sydney são cheios de pulgas e outras doenças, e são tratados com fórmulas químicas que nunca dão conta das pestes, pagando-se uma fortuna aos veterinários, uma classe terrivelmente incompetente. Os bichos acabam desenvolvendo outras doenças por conta.


Tê-tê-tê-tê-tê-tê, lourinho...
As autoridades estão de plantão para resolver mais este problema envolvendo a cachorrada australiana das corridas. É cachorrada pra lá, cachorrada pra cá, cachorrada pra todo lado. Outro dia minha filha falou pra gente, todos os cachorros da Austrália deviam ser criados como o nosso. Que lindo! Nosso cachorro é mesmo criado com muito amor, e com amor ele nos paga, é a alegria da casa e todo dia damos gargalhadas com ele. Ele é quase um meninozinho, só falta falar.



segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Continuação III - Stress em Canberra

Naquele post "Stress em Canberra" eu falava que havia feito limpeza em casas em Canberra. Agora vocês imaginem, quem sou eu? Uma profissional de Administração de Empresas, pós-graduada em Recursos Humanos, especialista e com 17 anos de experiência trabalhando nas áreas de estatística, orçamento, vendas, em grandes empresas, bancos e serviço público brasileiro, e ex-vendedora autônoma de confecções, vulgo sacoleira. Vim pra cá pra virar um lixo. Não que o trabalho de limpeza de casas seja degradante, mas convenhamos, não é trabalho para mim na minha idade.

Talvez se eu tivesse esta idade... ("Janitor", arte de Nicole Padilha)
Porém, como eu, grande parte das pessoas que emigram para países de "primeiro mundo" acabam tendo que se sujeitar a este tipo de trabalho porque é o único que podem fazer. As pessoas dão graças a Deus existirem imigrantes como nós para livrá-las desse tipo de trabalho doméstico, mesmo assim ele não paga muito bem. Verdade que paga muito mais do que no Brasil, cerca de $50 Reais por hora, mas é um trabalho pesado e solitário. Não tem ninguém em casa pra você conversar, você entra e sai e ninguém vê. É um trabalho pesado e mal pago.

E porque fui rebaixada desse jeito? Primeiro porque meu Inglês era fraco, e ainda é, se eu comparar com o Inglês necessário para trabalhos de alto nível como o que eu tinha no Brasil. Até meu marido ainda sofre com isso, o que o impede de chegar a gerência e diretoria. Tanto eu como ele temos complexo de que não sabemos Inglês o bastante, se bem que todo mundo diga "vocês falam muito bem e até sem sotaque, que nós nem sabemos de onde vocês são". Mais hipocrisia para nos consolar? Não se pode acreditar neles.
Dando duro...
Segundo porque cansei da minha profissão depois que criei meus filhos e não quis traduzir meus certificados nem ser aprovada por uma associação relacioada à minha formação acadêmica. Para criar meus filhos, fui uma mulher moderníssima para a época, decidi parar de trabalhar para educá-los ao invés de deixá-los nas mãos de empregadas domésticas. Apesar de que eu costumava ter boas empregadas e babás na época.

Hoje em dia, no "primeiro mundo", algumas mulheres estão finalmente chegando à conclusão que eu já tinha chegado 20 anos atrás, Mulher Maravilha do jeito que eu sou, de que é melhor elas ficarem em casa e cuidarem dos filhos. Isso é um golpe fatal no feminismo, por isso o número de mulheres "inteligentes" ao ponto de toparem esse tipo de coisa "moderna" ainda é pouco. Tem quem prefira manter o marido em casa com este fim.

Acontece que minha outra carreira profissional, a carreira de "mãe", me satisfez muito mais, então era de minha intenção começar a trabalhar com crianças aqui na Austrália. 

O resto vocês já sabem... 
O samba do crioulo doido
Como não consegui porcaria nenhuma, o jeito foi descer do pedestal e fazer qualquer coisa que pudesse, então sobrou limpeza, o último degrau da escala profissional nestes países maravilhosos. Aliás, o penúltimo, porque o último é não fazer nada e viver de benefícios públicos, principalmente ficando prenha todo ano. Esse tipo de trabalho para mim não dá mais, he, he. Bem que eu queria dezenas de filhos, mas o tempo disso já passou.

sábado, 16 de novembro de 2013

Continuação II - Ratos

Ah, naquela época daquele post "Ratos em Sydney", eles ainda estavam nas ruas. Acontece que lá pras tantas eles resolveram entrar no nosso condomínio e depois dentro do nosso apartamento, e aí a porca torceu o rabo.

Tenho pavor de ratos, mas ainda bem que meu marido não tem. 


Ratinho bonitinho...
Começou assim: ouvimos um barulhinho numa viga que tem em cima da porta do nosso quarto. Ora, que diabos era aquilo? Parecia um pinto espezinhando uma caixa de papelão, muito esquisito. Imaginamos que podia ser um passarinho preso na parede, porque as paredes das casas na Austrália são ôcas então aquela viga não era de verdade, era ôca também. As paredes aqui são feitas de gesso sobre estruturas de madeira. 

Um dia meu filho estava aqui em casa quando nos disse que a parede lá em cima estava "respirando". Então ele nos levou lá para nos mostrar. A parede realmente fazia movimentos como os de uns pulmões. Acontece que estava ventando muito lá fora naquele dia, e por alguma razão, o vento entrava por dentro da parede provavelmente vindo lá do telhado. Grande parte das casas daqui é de tijolo embaixo, e madeira no primeiro andar. Pois bem, esse apartamento também é assim, de cimento armado embaixo, e tabicas de pau em cima, e isso separando os apartamentos uns dos outros.

Voltando ao rato, o barulho passou. Pouco tempo depois meu marido estava em casa sozinho quando pensou ter visto alguma coisa correndo na sala pelo canto do olho. Intrigado, ele levantou-se e ficou na espreita. Pois não é que um ratinho estilo "catita" saiu de trás da geladeira em direção ao banheiro, que, quando viu meu marido olhando, se escondeu atrás do pratinho do cachorro e botou um focinhozinho de fora? Meu marido não sabia o que fazer, sem prática com estas coisas, e enquanto foi tentar achar uma vassoura, o danadinho sumiu. Não sabemos o que aconteceu com ele, mas então entendemos que aquilo do dia anterior não tinha sido passarinho coisa nenhuma.

Ah, denúncia vai, denúncia vem, acabamos brigando com o cara da imobiliária que ficou todo embananado pra explicar a invasão. Havíamos descoberto dois buracos por onde eles podiam sair da parede e entrar no apartamento, um dentro do armário da cozinha, embaixo, por onde entravam os canos de água quente, e o outro em cima do armário da cozinha perto de uma destas vigas ôcas. Ele então tapou os dois buracos com madeira que ele mesmo recortou. 

Pouco tempo depois meu marido pensa que vê algo correndo pela sala de novo.

Foi outro auê pedindo providências à imobiliária que não se saiu com nenhuma solução. O jeito foi pagar uma detetização para colocar armadilhas para os eventuais ratos invasores da nossa privacidade. A explicação de que a invasão de ratos no condomínio se devia aos serviços sendo feitos na nova linha do trem sendo reativada nas imediações não nos convenceu. O dedetizador falou que era obrigação do condomínio dar um jeito na garagem, por onde eles provavelmente estavam entrando nos apartamentos por dentro das paredes.


Olho no olho do rato
Estes não devem ser os mesmos ratos do meu post "Ratos em Sydney", se bem que também tem os focinhos finos e são bem pequenininhos. Raça Bandicoot ou não, não me interessa, são ratos do mesmo jeito. Que vão proteger a mãe deles.

No meu post anterior, falei que ratos gostam de roer fios. Ah, é, né?

Pois, de repente, antes da infestação, o telefone residencial pára de funcionar. Reclamação para a imobiliária de novo. Não, tenho que ligar pra companhia telefônica. Eles vieram em alguns dias e consertaram, e quando ligaram para meu marido dar o "feedback" (resposta) na pesquisa deles sobre satisfação de atendimento, ele aproveitou para perguntar o que aconteceu. Eles então disseram que os fios haviam "se estragado" e foram substituídos. Não foram roídos? Não. Ora, eles podem muito bem terem sido roídos pelos ratos, mas dificilmente eles iriam dizer tal coisa, porque no mínimo significaria que as propriedades na redondeza poderiam sofrer algum abalo nos preços delas se as pessoas descobrissem que os ratos causavam danos por ali.

E assim é a Austrália. Muitas coisas são escondidas para proteger os valores financeiros das coisas. O que pode lhe levar a fazer maus negócios se você mesmo não se informar sobre as coisas, justamente como nós vivemos no Brasil onde só se pode confiar em quem se conhece ou é recomendado por amigos.

Aposto que vocês nem sonhavam que em Sydney, Austrália, também era assim. Pois é, minha gente. Amem o Brasil.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Continuação I - Vendinhas e Ferrari

Como eu disse, muitas estórias que contei aqui tiveram continuação, e como eu havia fechado o blog, fiquei sem poder dar a continuidade que elas mereciam.

Neste post, tentarei dar continuidade a alguns dos meus posts anteriores.

No caso das "Vendinhas", hoje sei que a grande maioria delas são pequenos negócios que ainda proliferam em Sydney, e pertencem a imigrantes de outros países, principalmente asiáticos. Estes são os povos que trabalham mais nesta cidade, e costumam não fechar nos feriados. Alguns não fecham nunca, enquanto seus donos moram ali mesmo, na casa atrás ou no apartamento sobre eles. 

E aquela história da "Ferrari Vermelha"? Minha gente, não é que a Ferrari proliferou? De repente apareceu outra Ferrari vermelha, e mais outra, desta vez branca. Onde foi que vocês já viram uma Ferrari branca? Só em Sydney. Daí acabei descobrindo quem era o dono da Ferrari vermelha, e também o dono da Ferrari branca, pai e filho, libaneses, donos de negócios na área comercial de nosso bairro. Descobri assim como sem querer querendo, fazendo perguntinhas inocentes a alguns donos de negócios vizinhos conhecidos.

Tais Ferraris agora vivem no lava-a-jato manual que abriu perto de nossa casa. 

Esta neve nãé em Sydney...
Lava-a-Jato Manual

Lava-a-jato manual? Pois é, este é parte de algumas das diferenças entre Sydney e Canberra, e mais semelhanças com o Brasil. Aqui ainda tem lava-a-jatos tradicionais em que existem funcionários de verdade os quais enxugam e dão polimento em seu carro depois de passarem nas máquinas de lavar. Trabalho extra manual. Você deixa o carro e vai buscar, nada de tudo automático e faça-você-mesmo com naquela Canberra nojenta. Este lava-a-jato também pertence a imigrantes, é claro.


Mão na massa
Em Canberra, meu marido só tinha ouvido falar de um lava-a-jato semelhante a este no rádio, mas nunca foi lá por ser totalmente fora de mão e de horário. Todos os outros lava-jatos eram self-service. No próprio revendedor de nosso carro, eles disponibilizavam as "baías" para lavarmos nosso carro, se quiséssemos, mas nós é que tínhamos que fazer tudo, aprender a pegar na mangueira e advinhar como é que ela soltava o líquido, impraticável, mas que os australianos não reclamam.

O que os sabidinhos podem fazer, eles jogam pra cima do idiota do consumidor fazer pra eles. Atendimento ao cliente não parece ser uma coisa que o australiano dê muito valor e nem saiba fazer direito.

Sacos e Sacolas

Sydney também é diferente de Canberra no sentido de puxar o saco e encher com as compras de supermercado. Em Canberra eles decidiram abolir as sacolas plásticas das lojas e super-mercados em nome da ecologia. Agora você tem que pagar por elas. Quem não quer pagar, trás o saco de casa, daí eles vendem umas sacolas mais resistentes pra você usar várias vezes. Porém, em Sydney você ainda tem sacolas plásticas de graça como no Brasil.

Caixas Automáticos

Como se não bastasse, as grandes lojas e super-mercados inventaram os caixas automáticos em que você é quem faz tudo. Até então apenas a cadeia de super-mercados alemã chamada Aldi não embalava suas compras, você é quem tinha que fazer isso, por medida de economia, e para manter seus preços abaixo dos das outras cadeias de super-mercados. Agora as grandes cadeias de super-mercado obrigam você a trazer seu próprio saco, escanear seus produtos comprados, encher seu saco, e escanear seu cartão, soltanto uma nota fiscal pela boca. Tá achando ruim? Pois então enfrente as filas dos caixas humanos cada dia menos treinados em como encher o seu saco direito, dividindo suas compras em gelados, limpeza, carnes, frutas e vegetais, jogando tudo no mesmo saco e arrasando com sua banana, seu mamão e seu pão de caixa fresco.

DYI (do it yourself) faça você mesmo
Nos caixas automáticos, você é o seu próprio caixa, "conversa" com a máquina estúpida, e caso você se atrapalhe, tem uma pessoa de plantão pra tirar as dúvidas. Trocaram vários caixas por uma pessoa só, quebra galho. Com isso eles despediram metade dos caixas humanos, e quem não suporta tais maquininhas como nós, tem que enfrentar filas. 

Em Sydney ainda não tem isso naquela dimensão de Canberra. Daqui a pouco não haverão mais caixas humanos e nem empregos. Tudo o que se empurra goela abaixo nos moradores de Canberra, eles aceitam sem reclamar. Em Sydney é um pouco diferente.

Correios

Existe um corolário até certo ponto agradável nesta diferença entre Sydney e Canberra. De tanto ir lá nos correios pegar encomendas, os donos aqui em Sydney me conhecem. Por conta disso, agora me é possível pegar encomendas para meu marido e meus filhos sem precisar ter que provar quem sou e quem eles são, ou sem eles exigirem que só cada um tem que ir pegar suas encomendas porque estas são as regras atuais da Austrália, cada dia mais às voltas com as safadezas do povo australiano tão maravilhosamente educado. Isso é para evitar que ex-esposas ou ex-maridos peguem as coisas dos ex-maridos ou ex-esposas ou dos ex-filhos e façam mal uso sem o consentimento deles, coisa cada dia mais comum nesta sociedade. 

Caixa de correios
É assim que também se mede uma cultura de um país, pelas suas regras de coibições públicas. Aqui, o fato de ser marido ou esposa não lhe dá o direito de pegar uns as coisas dos outros, porque os casais separam-se tanto, as vinganças são tão malignas, e as reclamações são tantas que tanto os governos (de cada estado bem como o federal) e os negócios criaram exigências absurdas e ridículas para evitar que os cônjuges tenham acesso às informações do outro para usá-las contra eles em suas batalhas jurídicas. Isso é em todo lugar que você entrar em contato, desde bancos até consultórios médicos, e outros órgãos federais. Tudo pode ser usado contra o outro. Estas regras tornam sua vida de pessoa normal um inferno, só por causa das excessões.

Gasolina

Em Sydney você tem várias "marcas" de postos de gasolina. As mais poderosas como Shell, andaram fazendo acordo com as duas maiores redes de super-mercados nacionais que dão descontos aos seus clientes, a serem utilizados nos postos de gasolina conveniados. Era um bônus bastante atraente até poucos anos atrás. Ultimamente foi denunciado que tais descontos não fazem nada além de baixar o preço para ficar igual aos postos não conveniados, ou seja, a maioria dos pequenos postos vende gasolina mais barata do que os grandes distribuidores que se utilizam de má-fé para enganar os consumidores lhes dando descontos inúteis.

DYI (do it yourself) faça você mesmo. E os empregos, minha gente?
Agora imaginem que em Canberra não existe tal proliferação de postos de outras "marcas", lá a maioria é constituída dos grandes distribuidores. Resultado, Canberra é réfem das grandes cadeias de super-mercados e grandes distribuidores de gasolina. E os governos não tomam nenhuma providência? Não senhor, ao contrário, tudo vai sempre piorando para o ser humano comum, mas eles não reclamam.

Como se isso não bastasse, desde que chegamos aqui na Austrália que o sistema de fixar os preços dos combustíveis é altamente variável, variando conforme a bolsa de valores. Isso significa que o preço pode ser um de manhã, e mais caro ou mais barato horas depois. Em Sydney sempre foi assim, o que nos leva a escolher o posto mais barato em nosso caminho, não interessando a "marca" ou o local. Nossa mania atual é olhar placas de preços de combustível nos postos de gasolina.

Uma das cadeias mais baratas (de postos, não de prender gente)
Para piorar, Canberra parou de variar seus preços desse jeito e a mais de dois anos que o preço é único, o mais caro de todos, e nunca muda. 

E ainda dizem que este é um dos melhores países do mundo pra se viver. Como? Com esta exploração descarada?

Aeroporto

Quer mais? O aeroporto de Canberra foi comprado por uma pessoa, a qual comprou também toda a área ao redor e construiu um estacionamento e centro de negócios de altíssimo nível e sofisticação que hoje abriga as maiores consultorias mundiais. Então, para as pessoas estacionarem seus carros, ele construiu sofisticados estacionamentos eletrônicos cobertos e descobertos na área de business. Acontece que você não pode estacionar em nenhum outro lugar senão neste estacionamento em que você tem que pagar caro para o dono do complexo. O governo é conivente pois não contribuiu com nenhuma alternativa e, ao contrário, se você se atreve a estacionar em qualquer outro lugar embaixo da placa de proibido, você paga uma multa monumental. Isso é ou não é conivência com os poderes em voga? Continuem reclamando do Brasil...

Um dos prédios do centro de negócios

domingo, 10 de novembro de 2013

Ginástica em Sydney

Ah, taí, achei alguma coisa legal depois de 2 anos para fazer em Sydney, quer dizer, diferente do que eu conheço só em termos de Austrália, pois já falei em um post sobre como funciona academias de ginástica em Canberra.

Achei uma academia de ginástica perto de casa que me lembra o Brasil! Lá estou eu voltando a fazer a minha maravilhosa ginástica com a qual me sinto tão bem, finalmente. Tudo bem, tem anuidade (tem que contratar por um ano inteiro), mas pelo menos esta merece.

Não, não tem aeróbica, mas tem Zumba!

É pequena, mas aconchegante. As instrutoras (é só feminina) não precisam ser pagas para nos dar conselhos, nos ensinar novos exercícios, e nos corrigir quando estamos fazendo errado. Em Canberra, você tinha que pagar extra e bem caro para dizer oi para o treinador. Se ele visse você fazer exercício errado, ele deixava pra você se entortar todinha e depois ir para o hospital. Algumas pessoas provavelmente milionárias, tinham treinadores só para elas, um acinte aos outros frequentadores.

Ficamos obrigados a engolir um ano inteiro aquela enorme academia, com instrutores passeando prá lá e prá cá, tagarelando muitas vezes com os jovenzinhos, galinhando, o que era insuportável. O povo precisando claramente de instruções e eles galinhando. Velhinhos e velhinhas entortando cada vez mais por fazerem exercícios sem orientação, e eles tagarelando. Dava vontade de jogar pedras neles, se houvessem pedras.

Em Sydney as instrutoras são legais e não costumam se juntar às clientes para tagarelar. Quanto às clientes, estas tanto faz serem legais ou não. De um modo geral não são. Aqui a coisa funciona assim, por exemplo, ontem uma mulher se instalou na máquina de andar colada com a minha e nem sequer olhou de lado. Ela já entrou na academia com os fones de ouvido nas orelhas, mesmo que tenha som de qualidade na academia. Quando eu chego na academia, olho e dou “boa tarde” pra quem quer que cruze comigo, mas a maioria dos australianos não é assim, eles lhe ignoram completamente, não são capazes de falar absolutamente nada, nem um “hi” (oi) ou até mesmo soltar-lhe um ar de riso. É impressionante!

Outro dia na mesma máquina, conheci uma  australiana que pareve ter gostado de mim e começou a puxar papo, e conversamos bastante, ela toda interessada em saber coisas do Brasil, pois notou meu sotaque e perguntou de onde eu era. E toda vez que nos encontrávamos, entabulávamos uma conversa bem ao estilo brasileiro a que estou acostumada. Então, como é normal na nossa cultura brasileira, a certa altura falei que podíamos continuar a conversa em casa, que ela podia me fazer uma visita quando tomaríamos um cafezinho.

A mulher sumiu. Trocou de horário, sei lá o que. Diga-se de passagem que ela foi uma raridade na ginástica onde praticamente ninguém troca palavra.

O que aconteceu?

Até parece comigo...
Conhecendo a cultura daqui, não se tem o costume de se convidar alguém para sua casa, pois toda vez que eu e meu marido tentamos isso, demos com os burros n'água. Mas eu caí nessa outra vez, me esquecendo que sou brasileira.

Praticamente, todo mundo que quis conversar conosco, marcou encontro num café. Isso significou pagar caro pra tomar um mísero cafezinho com bolinho sem ter vontade, e ter uma conversa que não pode passar de 1 a 1 hora e meia. Tudo bem frívolo do jeito que eles gostam, bonito, chique e sem compromisso. 

Eles são incapazes de relaxar na casa de alguém como a gente faz. Sei lá o que pensam, mas uma das coisas que estou sabendo é que eles não querem a obrigação de terem que oferecer a mesma coisa na casa deles, ao mesmo tempo em que, se eles aceitam, se sentem obrigados a retribuir. E eles não querem retribuir por vários motivos, um deles é que frequentemente suas casas são um bagunça inacreditável. Na realidade eles não gostam que invadam sua privacidade.

Concluindo, muita gente realmente puxa conversa, mas nunca leva a nada além disso, não se faz amizade. É de um jeito que desisti de conversar assim ao léu. Ah, bom, já entendi. Eles provavelmente já sacaram isso antes de mim, por isso nem tiram o fone do ouvido. Que burra que sou.

E não é que estou adorando esmurrar o saco?
Ao mesmo tempo tem gente que cruza com você no complexo onde você mora com cara de bicho. Dá até calafrios. É muita gente mal-amada, minha gente. Nem mesmo os brasileiros que continuamos a encontrar na cidade o tempo inteiro, eu não paro mais pra falar com eles e dizer, falam Português, são de onde? Desde o dia em que uma amiga minha me falou que muitos são ilegais (atenção, eu falei “ilegais” mesmo), então eles dizem que vão ligar pra você, e jamais ligam, com medo de serem denunciados. Visitá-los, nem pensar. Até mesmo os portugueses do bairro Português já estão adaptados à cultura australiana e dalí da conversa sobre o balcão da loja deles não passa. Durma com uma zoada destas.

P.S. Para quem não sabe, Zumba é mistura de Samba com Rumba e é comigo mesma!

"Me virando" em Sydney... no bambolê


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Solidão na Metrópole

Bem, voltar a blogar significa revisar tudo o que já escrevi até aqui, porque, por exemplo, no post "Vivendo em Sydney", lá pra maio de 2011, escrevi que Sydney era outro mundo com relação a Canberra.

Hoje mudei de opinião: tudo continua sendo Austrália, ou seja, é tudo igual. Mudanças só na aparência, no movimento.

Sydney tem aparência de cidade grande, mas o povo é o mesmo, os valores são os mesmos, ou seja, você acaba se decepcionando do mesmo jeito. Ah, e não sou eu só quem digo isso não, minha gente, são os próprios australianos ou "Sydney-siders", que é como são conhecidos os moradores desta cidade. Tenho provas disso num artigo do jornal Sydney Morning Herald, para quem sabe Inglês:


Meu marido traduziu o artigo, mas quando foi pedir licença para publicá-lo, o jornal exigiu $70 dólares para cobrir o copyright. Ele desistiu. Afinal ele ia divulgar o jornal no Brasil, "idiots" mesquinhos! Talvez mais adiante, quando a notícia deixar de ser "quente", passe a ser grátis, como tantos outros artigos daquele jornal disponíveis online. Espero que o jornal não cobre por colocar o link pra sua reportagem aqui. Money, money, money!

Algumas coisas são melhores em Sydney, como os preços das coisas, outras coisas são piores do que em Canberra, como... o preço das coisas. 

Por exemplo, moradia é muito mais cara em Sydney, mas passagens de ônibus são mais baratas. Você tem mais coisas pra ver em Sydney do que em Canberra. Sydney tem muito mais movimento, o trânsito por vezes é caótico, mas por incrível que pareça, na planejada Canberra também tem problemas de tráfego assim como em Brasília. O lance lá é o mesmo de Brasília, os governos não gastam dinheiro "prevendo" como o tráfego vai se desenvolver com o crescimento da cidade, e resumem-se a "apagar o fogo", remediando o tráfego quando ele se torna caótico em certas vias, perdendo produtividade ao aborrecer o povo e tomar seu tempo ao léu. É um tipo de corrupção.

Me lembro que, 15 anos atrás, ficávamos presos no eixo monumental em Brasília, uma estrada curta de 6 faixas saindo da cidade até a estação rodoviária. Ora, 6 faixas, e engarrafamento numa cidade planejada, como é que pode? Pois em Canberra você sofre do mesmo jeito. Meu filho, que esteve no Japão, falou que lá eles constroem ou consertam autopistas em 2 dias. Na Austrália leva 2 anos. Vocês já viram este disco?

A estas alturas estou convencida de que para a Austrália não tem jeito mesmo não. Aonde quer que você vá, é tudo igual, as pessoas se comportam do mesmo jeito. No início, aqui em Sydney, cheguei a me empolgar porque conseguia conversar com muita gente. Mas eram pessoas donas de estabelecimentos comerciais, todas de raças diferentes. Ainda hoje mantenho boas relações com todos eles (exceto um dono grego de doceria que avançou um pouco o sinal, he, he), mas amizade mesmo que é bom, nem-nem. Eles nem tem tempo pra isso, coitados.

Isso quer dizer que continuo sozinha num deserto no meio de uma metrópole internacional. A Austrália não é só deserta no centro, é deserta nas pontas também.


É chato ser diferente...
Sydney ainda se parece com o Brasil na bagunça da cidade, em suas ruas estreitas e tortas, e nos buracos no asfalto remendado. Mas o "polvo", minha filha... não tem jeito.

Agora me lembrei daquela piada que diz que o Brasil é um paraíso mas olha o povo que Deus colocou lá. Acho que esta piada também se aplica à Austrália.