domingo, 19 de junho de 2011

Excelente Serviço Social I

Para quem acha que o serviço social no exterior maravilha é muito melhor do que no Brasil, saiba que funcionário público é a mesma coisa em qualquer canto do mundo. Vou dar apenas um exemplo.

Nosso filho universitário recebe uma verba do serviço social da Austrália. É uma verba para estudante, que ajuda ele a pagar sua parte na acomodação que ele divide com duas colegas da universidade. Ele vive fora de casa porque, quando iniciou universidade em Sydney, nós vivíamos em Canberra. Só mudamos um ano depois, quando nossa filha também tornou-se universitária em Sydney.

Então chegou a vez da nossa filha entrar com o pedido do mesmo benefício para o serviço social. Ah, prestou não.

Primeiro ligamos para o serviço social e nos foi dito que podia-se fazer tudo pela internet. Então nossa filha, acessou o site, e preencheu o requerimento. Quando terminou, o site “disse” que ela tinha que baixar um formulário com mais de 90 perguntas que deveria ser respondido pelo pais e levar numa agência junto com documentos dela.

Começou por aí, que pode ser feito online coisa nenhuma!

Continua...

domingo, 12 de junho de 2011

GP da Austrália

Não, não se trata do GP de Fórmula 1 da Austrália, trata-se de GP (General Practicioner), como são conhecidos os médicos clínicos gerais na Austrália.

Sydney é mesmo diferente de Canberra, parece outro país. Tivemos sorte de morarmos neste subúrbio, porque aqui tem tudo. Estamos loucos pra comprar um apartamento aqui, já que moramos de aluguél.

Resolvi ir a um médico hoje porque estava sentindo sintomas de virose e dor no ouvido. Com certeza tem sido por causa da mudança de temperatura e o vento frio. Tem chovido muito em Sydney e o vento frio cortante de inverno deve ter afetado meu ouvido. Então resolvi ir ao médico pela primeira vez em Sydney. Acontece que na redondeza tem dezenas de médicos, dentistas e centros médicos. Em Canberra só tinha dois por perto de nossa casa. Um deles nem sempre tinha médicos, e foi aberto anos depois de termos comprado nossa casa. Dava pra ir à pé naquele, mas só tinha dois médicos, quando tinha. O outro centro médico ficava longe e tinha-se que pegar ônibus caríssimo de meia em meia hora, ou ir de carro, e eu não dirijo. Outros centros médicos ficavam muito longe, em bairros afastados, e outros estavam fechando ou seus médicos não recebiam "novos" pacientes. É preciso ser muito paciente mesmo.

Aqui em Sydney dá pra ir à pé a vários centros médicos à escolha. Além disso, todos os que vimos até agora fazem “bulk billing”, que é o sistema em que a pessoa não paga nada e o governo é quem paga as consultas. Em Canberra, que eu saiba, só tinha um “bulk billing” no bairro de Woden, mas para se submeter a não pagar, era preciso esperar horas na fila, pois não se marcava consulta, era por ordem de chegada. Aqui em Sydney, além de todos eles serem perto um do outro, fazem “bulk billing” e ainda marcam consulta.

Bem, o contrário de “bulk billing” é você pagar a consulta que custa quase duas vezes o preço que o governo paga, levar o recibo para o serviço médico do governo chamado Medicare, e receber um percentual de volta, que varia entre 20 e 60%. Pior do que isso, se você precisa de novas receitas porque as suas acabaram, paga. Se você dá um espirro, paga.

Posto médico em Sydney

Então, o que é “GP”? Significa “general practicioner”, que ao pé da letra significa “prático geral”, um outro nome para o que definimos de Clínico Geral. Um profissional que aparentemente sabe de tudo e faz a triagem para você prosseguir e tirar exames ou ir para um especialista. Mas ouvindo assim soa muito bonito. A verdade é outra. A prática é que a maioria dos GPs não sabe nada além de prescrever analgésicos, e para você conseguir um exame ou um especialista, tem que dançar muito.

Os motivos disso não vêm ao caso agora, mas a idéia, que é sempre linda no papel, é que cada família tenha um GP que acompanha seus achaques ano após ano. Então ele tem poder de emitir suas receitas e remédios e estes são controlados para evitar que as pessoas tomem como drogas (tem gente que assalta farmácia atrás de qualquer coisa que lhes dê um barato). Então você tem um número “X” de pílulas pra comprar. Depois disso, tem que ir no médico de novo para obter mais. É tudo assinado num ticket cadastrado na farmácia. Se você for a um especialista, prepare-se para perder as calças. Eles são ridiculamente caros, e os hospitais, ah meu senhor, tenha dó de mim. Já vou falar sobre isso em outro post bem grande! Mas considere que atualmente o SUS é melhor do que a saúde pública australiana, acredite ou não. É um pavor cair doente aqui, que Deus nos proteja. E as farmácias em Canberra? Outro post bem grande!

Mas em se tratando do “bulk billing”, é  ou não é outro país? E como se não bastasse, no mesmo centro médico que escolhi, que fica no meio de uma rua de comércio cheia de lojinhas, mini super-mercados, restaurantes, farmácias, padarias e delicatessens, tem GPs, psicólogos, dentistas e exames. Em Canberra todos os centros médicos tem só GPs. Exames são feitos fora e psicólogo e dentista, cada um tem seu próprio escritório e preço não coberto pela saúde pública, é seu bolso mesmo. Ou seja, tudo é muito mais difícil em Canberra.

E ainda tem mais! Em Canberra nenhum GP quer saber nem da existência de medicina natural. Pois bem, a médica que me atendeu em Sydney, recomendou-me tomar óleo de peixe e glucosamine, que são vendidos nas farmácias, lojas de produtos naturais ou super-mercados. Nenhum GP jamais recomendaria isso em Canberra.

Não, não acabou. Acontece que a atendente sacou que eu era brasileira, e falou que era portuguesa, então passamos a conversar em Português. É mole?

São estas as vantagens de morar em Sydney com relação a morar em Canberra, onde eu me sentia uma prisioneira. Jamais imaginei que pudesse existir duas Austrálias. Afinal, esta daqui dá até pra suportar por algum tempo!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ratos em Sydney

Para nós, brasileiros, ratos são sinônimo de coisa nojenta, que anda pelos guetos e esgotos das ruas, transmitindo raiva e outras doenças mortais, fazendo com que tenhamos pavor e o desejo de matá-los, uma vez eles se atravessem na nossa frente.

Pois bem, recebemos um folheto em casa dizendo que nosso bairro em Sydney está infestado de ratos! Mulheres não se dão muito bem com ratos, vocês sabem.

Apareceu um tipo de rato nos quintais das casas, e ficamos alarmados, daí eu liguei logo para meu marido no trabalho dando a notícia ruim, pois afinal, significava que tinham enrolado a gente e havíamos nos mudado para um bairro empestado de ratos.

Eu não entendi direito o que li, e pedi para ele ler também depois que chegou em casa, porque não dava pra acreditar no que eu tinha lido. Parecia que os ratos eram benvindos ao invés de serem tratados como infestação. Onde já se viu? Não dava pra acreditar.

Então ele leu com bastante atenção, e realmente o folheto dizia para protegermos a espécie que está sendo ameaçada de extinção, e o fato deles terem reaparecido no nosso bairro é motivo de orgulho e regozijo, pois isso significa que eles estão sobrevivendo no meio de todos os perigos da cidade. A tal raça “bandicoot” de nariz comprido já havia sumido da cidade quase inteira.

Rato Bandidinho (Bandicoot)
Então, no meio das explicações de quem são esse bandidinhos, como reconhecê-los, como eles vivem, do que se alimentam e como são ameaçados pelos gatos domésticos soltos nas ruas, cachorros, e até raposas e atropelamentos, no folheto diz o que devemos fazer para ajudar a “preservar a rataria”!

Que tal mais esta “diferença cultural”? Ao invés de exterminar ratos, se “protegem” eles aqui.

Parece brincadeira, parece loucura, mas do meio pro fim a gente acaba mudando de humor, e passa do asco e indignação para a piedade de cuidar dos bichinhos ameaçados, coitadinhos. O que uma propaganda não faz!

No fim, acaba sendo bom a gente saber quem são eles, muito prazer em conhecê-los, sejam benvindos à nossa casa, porque, apesar de não morarmos em casa, se morássemos, então estávamos sendo instruídos de como reservar uma parte de nosso jardim ou quintal para acomodar os ilustres visitantes focinhudos. Aos donos de casas, é sugerido manter uma pequena área com plantas nativas como a natureza provê, de modo a atrair e manter os ratinhos vivos e em seus habitats. Você vai lá de vez em quando fazer bilu-bilu e fim daquela cena de subir na cadeira e dar grito fino.

O folheto ensina as crianças a descobrirem onde os ratos estão vivendo pelo formato triangular dos seus buracos, e fala sobre o que eles comem, o que para nós é uma vantagem afinal, pois, dentre outras coisas, eles comem baratas! Parece que Sydney é infestada de baratas, e até agora não recebemos nenhum folheto dizendo para “preservá-las”, pelo menos. Ufa!

Dentre os conselhos está até o de dirigir com cuidado à noite por áreas em que suspeita-se que os tais ratos vivem, a fim de não atropelá-los. Então eu cunhei a piada de que em Sydney podemos atropelar uma pessoa, mas não um rato. Difícil vai-se ver um rato no meio do escuro da noite, é mais fácil ver uma pessoa. E o ditado “você é um homem ou um rato” agora mudou de sentido!

E por falar em ratos, descobriram recentemente ratos num avião da Qantas, a companhia aérea australiana. Os ratos foram encontrados pelos comissários de bordo no armário de remédios, e imediatamente foram retirados os passageiros para uma outra aeronave, para ser feita uma isnpeção na fiação, pois uma vez roída, pode provocar um grande acidente por curto-circuito. Sabe-se que ratos gostam de roer a cobertura de fios. Será que foi um ato ou um rato terrorista?

Então, quando você decidir viajar para Sydney de avião, é melhor assumir logo que você é um rato e tem sangue de barata.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Ferrari Vermelha

Lá vou eu toda faceira passeando com o cachorro flu-flu branquinho e simpático pelas calçadas suburbanas de Sydney, retornando do dentista ao decidir fazer outro caminho de volta para casa só para andar mais um pouco, quando entrei nesta rua longa e do outro lado da calçada, em direção contrária, vinha um senhor que fazia uns gestos e ria como quem queria puxar papo daquela distância. Ri comigo mesma pois estava com a boca anestesiada e nem pensar em entabular uma conversa naquela hora.

Não, não sou loura
Faço que não vejo, rindo por dentro, bem recatada e continuo minha caminhada para casa. Não, eu não estava nem de saia comprida, nem de sobrinha rendada, nem de nariz empinado.

Pois não é que o senhor bem aparentado resolve voltar pelo mesmo caminho em direção ao seu carro estacionado, fazendo que esqueceu alguma coisa?

Ah meu Deus, tomo um susto danado e mal me contenho errando o passo. É que o tal carro era nada mais, nada menos que uma Ferrari vermelha reluzente, mas tão reluzente, que parecia que ele tinha lambido ela todinha! Com certeza era pra me impressionar, mas eu segui meu caminho e nem sequer olhei para trás.

Ferrari estacionada em Sydney
Como eu sei que era uma Ferrari, meu marido perguntou, sabendo que não entendo nada de carros? Ora, pelo emblema amarelo com um cavalo! E não é esse o símbolo da Ferrari? Ora, eu também já assisti a corridas de Fórmula 1. E este eu conferi de propósito.

Quer dizer, a coroa aqui agora está virando a cabeça dos playboys de Sydney que dirigem Ferraris! Mas demos muitas gargalhadas no telefone, eu e meu marido que disse assim: com esta concorrência, eu não aguento!

Ah, passei que passei, rindo pelo canto da boca. Suponho que ele deve achar que aquele carrão deve ganhar quem quer que ele deseje e bote o olho em cima. Bem, eu já andei em carros esportivos antes, sei como é, então como diz aquela música da Shania Twain, “it does not impress me” (não me impressiona).

Este foi apenas um dos pretendentes que todo dia encontro às carradas nas ruas do bairro onde moro e no centro de Sydney. Nunca me diverti tanto! Eles caem o queixo quando sabem que tenho filhos na universidade! Não falta quem puxe papo pra saber isso.

Eu não ficaria tão à vontade se apenas os homens puxassem papo, mas nesta cidade, todo mundo puxa papo. É bem diferente do velório de Canberra onde ninguém sequer olha pra você, quanto mais puxar papo. Aqui todo mundo conversa tanto que finalmente estou desenvolvendo e praticando meu Inglês, mal ponho o pé na rua, e até mesmo antes de botar o pé na rua, dentro do condomínio mesmo! Depois de ter passado 11 anos calada e embutida lá em Canberra, agora estou com a bola toda. É tudo quanto é gente pra conversar, com milhares de sotaques diferentes. Até Português aparece de vez em quando.

E ainda de quebra, me divirto pra caramba com as peripécias masculinas desta cidade que é muito viva, tão viva que até lembra minha cidade natal no nordeste do Brazil.

Mas imagine a capacidade deste coroa de hoje, voltar só pra me mostrar a coisa vermelha que ele tinha. Meu marido perguntou, “tem certeza de que o carro era dele”, e demos mais gargalhadas. Se a Ferrari vermelha era mesmo dele, só Deus sabe.

Dentista

E mais gargalhadas demos quando contei sobre o dentista onde fui continuar um tratamento antes de me deparar com a coisa vermelha. É que da última vez o dentista me deixou 5 horas paralisada de anestesia. Eu já estava entrando em pânico, pensando que ia morrer balbuciante de boca torta.

Hoje eu disse pra o dentista, mas que raios de anestesia foi aquela, seu? Ele disse, você reclamou tanto do dentista de Canberra que tirou seu dente a cru, sentindo as dores do parto para nunca mais, que eu reforcei a dose. Eu disse que fiquei tronxa a noite inteira, não podia falar nem comer, e ele ficou rindo junto com a recepcionista. Riram a valer, foi muito divertido.

Anestesiada
Aqui eu me divirto muito. Ele prometeu que desta vez ia durar só 3 ou 4 horas. Quando cheguei em casa vi que tinha feito sopa quente para tomar toda dormente. Fiquei imaginando a cena da sopa escorrendo e eu não sentindo nada, me queimando toda. Mas graças a Deus comecei a sentir as coisas de novo e logo a anestesia foi embora.